Na escolha da escola, pais buscam mentores para os filhos

Além do currículo, instituições trabalham habilidades socioemocionais, com professores como mediadores

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Por Thaís Ferraz
4 min de leitura

SÃO PAULO - O conhecimento além do currículo é, hoje, um princípio norteador da educação básica no Brasil. Além de infraestrutura e tradição, colégios precisam oferecer um constante desenvolvimento das habilidades socioemocionais dos alunos. Nesse cenário, pais priorizam aspectos como corpo docente e formação humanista para escolher a escola dos filhos.

Empatia. Daniela Vanetti, aluna do Band, participa de grupo que ajuda outros estudantes Foto: JF Diório/Estadão

A advogada Paula Seabra Carvalho, de 37 anos, passou um ano estudando possibilidades antes de definir a escola onde Stella, a filha de 3 anos, estudaria. “Em casa, sempre tivemos uma preocupação muito grande em relação à educação que daríamos para nossos filhos”, conta. “Sabemos que essa decisão afeta diretamente o acesso ao futuro que terão, e queríamos que eles tivessem boas oportunidades.”

O corpo docente foi um dos critérios para a seleção. “Em todas as visitas que fiz, perguntei se havia treinamento para professores e qual era”, conta. “Para mim, é fundamental que os docentes estejam sempre se atualizando, porque o mundo está mudando muito rapidamente.”

Paula destaca a relevância que os professores assumem na formação ‘além do currículo’.

“O docente não é o responsável pela educação do seu filho, mas é um grande aliado dos pais”, afirma. “É importante estimular na criança valores como independência, respeito ao próximo e autonomia.” 

As habilidades citadas por Paula fazem parte do grupo de competências socioemocionais - aptidões não cognitivas, que dizem respeito a como as pessoas se relacionam com elas mesmas e com o mundo. Gerente de projetos do Instituto Ayrton Senna, Cynthia Sanches afirma que, nos últimos 40 anos, cerca de 200 habilidades socioemocionais foram mapeadas em estudos.

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“A educação já trabalha há muito tempo com a ideia de que o conhecimento não pode ser só tradicional. Várias pesquisas comprovam que o desenvolvimento socioemocional traz bons frutos”, diz. “Mas isso não se dá só com teoria. É necessário ter aulas que apliquem essa competência na prática.”

No dia a dia, o professor é o profissional que mais interage com o aluno. “É o grande mediador desse processo, é quem vai desenhar a aula e a experiência de aprendizagem.”

A professora Maria Estela B. Zanini, diretora de convivência do Colégio Bandeirantes, destaca o papel de mediador do professor. “Ele precisa gerenciar conflitos em sala de aula, fazer avaliações mais formativas e dar feedbacks melhores”, afirma. “Muitas vezes, no entanto, os docentes não aprendem as ferramentas necessárias. Por isso, a formação continuada é fundamental.” 

Apoio

Para ela, o desenvolvimento de habilidades socioemocionais não pode ser uma via de mão única. “Os alunos precisam despertá-las, mas as escolas também. Elas precisam proporcionar que esses aprendizados sejam vividos no dia a dia.” O Bandeirantes oferece uma série de atividades nesse sentido. A Equipe de Ajuda reúne estudantes em formações sobre a importância da escuta ativa, da comunicação afetiva e da empatia, com objetivo de identificar problemas de outros colegas e apoiá-los.

Daniela Vanetti, aluna do 7.º ano do colégio, é uma das participantes. “Observamos a sala de aula e nos encontramos de 15 em 15 dias para conversar. O nosso papel é ajudar os alunos a se ajudarem.” Para ela, o programa é fundamental para o presente e o futuro. “Faz com que o colégio não veja números, mas pessoas, e nos prepara para sabermos nos relacionar com os outros.” 

Formação

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Para acompanhar as demandas, colégios investem na formação de professores. Na Escola Internacional de Alphaville, eles aprendem a trabalhar com competências socioemocionais. Mas a gestora da escola, Ana Claudia Mesquita Chioccarello Favano, ressalta que as habilidades não podem ser ensinadas em um “pacote” de aulas.

Global.No Alphaville, habilidades emocionais estão em toda aula Foto: Escola Alphaville

“Essas competências, como respeito e empatia, precisam ser vividas no dia a dia. Não adianta dar aula de socioemocional, todas as aulas precisam incluir esse campo.” 

Para o diretor-geral do Colégio Marista Arquidiocesano, Carlos Dorlass, o professor precisa ser generalista. “Além do específico, deve saber de outras áreas. Quando não conhece, precisa ser capaz de conversar e dividir conhecimentos.” 

Diretora educacional institucional do Colégio Porto Seguro, Meire Nocito afirma que a formação é constante na escola. “O professor participa da capacitação para dinamizar as aulas, mas precisa ser cuidado na formação”, diz. “E tem formação para os pais também. Precisam de orientação para lidar com jovens e crianças.”

Foco.Colégio Porto Seguro investe na formação Foto: Colégio Porto Seguro

Cinco grupos de competências socioemocionais

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Amabilidade Esta macrocompetência está relacionada ao modo como o indivíduo se relaciona com o mundo e inclui habilidades como a empatia, o respeito e a confiança 

Engajamento Por meio desta competência, são desenvolvidas a iniciativa social, a assertividade e o entusiasmo 

Resiliência emocional Entre as habilidades incentivadas aqui estão a autoconfiança e a tolerância ao estresse e à frustração.

Autogestão  Dentro deste grupo de competências, o estudante aprende a ter foco, responsabilidade, organização, determinação e persistência 

Abertura ao novo  Esta macrocompetência inclui curiosidade para aprender, imaginação criativa e interesse artístico