MPF investiga declarações de racismo de professor da Ufes

Manoel Luiz Malagutti afirmou aos alunos do 2º período de Ciências Sociais que "se tivesse que escolher entre um médico branco e um negro, escolheria o branco"

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Por Redação
Atualização:

O Ministério Público Federal instaurou um procedimento investigativo criminal contra um professor de economia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)para apurar possível conduta de racismo. Manoel Luiz Malagutti afirmou aos alunos do 2º período de Ciências Sociais , em uma discussão sobre cotas raciais na última segunda-feira, 3, que "se tivesse que escolher entre um médico branco e um negro, escolheria o branco". 

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Em entrevista ao jornal Gazeta Online, o professor confirmou a declaração e reafirmou os argumentos. "Os negros, em média, eles vêm de comunidades menos privilegiadas, para a gente não usar um termo mais forte. Nesse sentido, eles não têm uma socialização primária na família que os torne receptivos aos trâmites da universidade". 

O professor foi afastado das aulas com 2º período, mas, de acordo com a Ufes, ainda pode lecionar em outras salas. Em entrevista realizada nesta quarta-feira, 5, o reitor da instituição, Reinaldo Centoducatte, afirmou que foi criada uma comissão de sindicância que terá prazo de 30 dias para apurar se a denúncia é verdadeira. 

Ele ainda ressaltou que a apuração pode ser concluída em prazo inferior, já que o professor admitiu ter feito as declarações em entrevistas a diversos veículos de comunicação.Se a denúncia for confirmada, poderá ser aberto um inquérito administrativo. "A punição pode ir de uma advertência verbal à exoneração”, afirmou o reitor. 

Manifestação. Cerca de 300 estudantes da Ufes fizeram um protesto na quarta-feira, exigindo a exoneração do professor. Em nota, o Coletivo Negrada, um dos organizadores do ato,repudiou as afirmações do docente.

Leia a íntegra do texto:

O Coletivo Negrada por meio desta Nota, condena veemente as afirmações de caráter racista proferidas pelo professor da UFES Manoel Luiz Malaguti, que numa aula para a turma do 2º período do Curso de Ciências Sociais, afirmou numa discussão sobre Cotas que “detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro”, além de desferir seu ódio com falas, expressamente racistas como: “Não posso utilizar uma linguagem técnica e textos mais elaborados, pois vocês (negros/cotistas) não tem capacidade de compreensão e interpretação, visto que a maioria não tem uma boa base de leitura para entender a matéria sem que eu use uma linguagem mais simplificada”; “os negros não são capazes de manter o nível da formação universitária”; “o nível da educação está tão baixo que o professor não precisa se qualificar mais para dar aula, já que a maioria dos cotistas são negros, pobres, sem cultura e sem leitura, são analfabetos funcionais”.

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O crime de racismo está configurado quando este professor com seus atos e declarações, constrange e ofende moralmente “todos os estudantes negros e cotistas desta universidade”, negando e impedindo que estes estudantes exerçam o direito de estar neste espaço de educação superior.

Reiterando que o criminoso em questão é um formador de opinião e que usou do exercício da sua função para infringir a lei. Atitudes como essa, nos alertam cada vez mais a necessidade de uma intervenção emergencial, por meio de resolução, da Universidade Federal do Espirito Santos e das Secretarias de Educação, a fim de implementar de fato a Lei nº 10.639/03 que obriga o ensino da verdadeira história do povo negro e africano nas escolas.

A implementação da lei 10.639/03 é fundamental para a desconstrução do racismo na universidade e nos demais espaços sociais, pois só assim, podemos falar numa verdadeira transformação e na formação de nossos professores e estudantes, seja da área da educação ou nas demais áreas profissionais de nossa sociedade.Exigimos, que todas as providências sejam tomadas para que haja a responsabilização deste professor pelos atos de racismo praticados contra os estudantes negros e cotista da ufes.

Ressaltamos que somos cotistas sim!!! Cotas é direito e uma conquista do povo negro que luta e resiste para que hoje possamos garantir condições melhores de vida e dignidade para toda a população negra.

Repudiamos todos os atos e afirmações deste professor, assim como, todos os atos racistas e preconceituosos praticados também por meio do racismo institucional, que dificulta o exercício do pleno direito a educação pública e de qualidade, assistência e permanência dos estudantes cotistas, negros, indígenas e da escola pública.

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