MEC anula 14 questões do Enem de mais 500 alunos e antecipa resultado

Ministro Haddad atribui demora na punição à necessidade de checar lista de alunos

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Por Rafael Moraes Moura
Atualização:

BRASÍLIA - Após a confirmação da Polícia Federal de que o vazamento das questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi maior que o admitido oficialmente, o Ministério da Educação (MEC) decidiu nesta quarta cancelar 14 questões da prova também dos alunos do cursinho do Colégio Christus, de Fortaleza, e antecipou a divulgação das notas do exame de todos os alunos do País. O MEC sabia desde novembro das evidências colhidas pela PF de que, além dos 639 alunos do colégio cearense, estudantes do curso pré-vestibular da instituição também tiveram acesso a 14 questões do pré-teste do Enem - usadas num simulado no colégio e no cursinho -, que acabaram sendo aplicadas também na prova do Enem. Mesmo assim, o MEC agiu apenas quando o caso veio à tona pela imprensa. Em entrevista ao Estado, o ministro da Educação, Fernando Haddad, negou que o MEC tenha ignorado as evidências da PF. Segundo ele, era preciso checar a lista dos alunos do cursinho antes de anunciar a punição. Com o anúncio desta quarta, o número de alunos que tiveram as questões anuladas saltou de 639 para 1.139.Em nota divulgada à tarde, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do MEC que cuida do Enem, disse que adotou a medida "com base em informações da Polícia Federal do Ceará", mas não explicou por que precisou de cerca de 30 dias para se definir sobre o impasse. O MEC havia dito inicialmente que aguardaria mais informações e a conclusão do inquérito da PF para anular as questões - mas anunciou a punição aos alunos do cursinho sem que o inquérito da PF tenha sido concluído. Em nota, a assessoria do MEC reiterou que a pasta não "ignorou" as informações da PF. No entanto, o MEC só atuou publicamente - e não por meio de trocas de ofícios com a PF - depois de o caso ser divulgado. Notas. Para amenizar a má repercussão do episódio, como apurou o Estado, o MEC antecipou a consulta na internet das notas do Enem - as do Enem 2010 foram divulgadas apenas na primeira quinzena de janeiro deste ano. Segundo o ministério, o sistema de consulta estava pronto desde segunda-feira desta semana, sendo submetido a testes desde então. O aluno usa a nota do Enem para obter vaga em universidades federais e brigar por uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Pro-Uni). Candidatura. Em 29 de outubro, o Estado publicou que, além dos estudantes regulares, os alunos do cursinho do Christus haviam tido acesso às questões do Enem. Quando a PF comunicou ao Inep ter "evidências" do vazamento, o ministro Haddad já havia sido lançado como pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo. "O Ministério da Educação e o Inep ainda aguardam as conclusões do inquérito policial para tomar medidas cabíveis nas instâncias administrativa e criminal", disse o instituto. A investigação da PF revelou falhas na fiscalização do pré-teste no Ceará, a cargo da Fundação Cesgranrio - contratada em um consórcio ao lado do Cespe, contratado sem licitação. Em nota , a Cesgranrio admitiu os problemas, ao reconhecer que foram recrutados aplicadores com vínculos com a instituição. A própria fundação classificou a atitude como "descabida". O MEC afirma estar seguro de que o vazamento de questões do Enem não se repetiu nas outras 15 escolas onde foi aplicado o pré-teste. O ministério também diz confiar no Consórcio Cespe/Cesgranrio para a aplicação do pré-teste e do Enem e defendeu o aprimoramento das questões de segurança nos próximos exames.

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