Após críticas, MEC amplia história mundial em novo currículo

Polêmica motiva alterações na Base Nacional, que destacava processo indígena e africano; em português, gramática é realçada

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Por Paulo Saldaña
Atualização:
Base. Documento prevê o que alunos devem aprender e ficará pronto até o meio do ano Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Após uma série de críticas, o Ministério da Educação (MEC) decidiu ampliar a parte de história mundial, sem deixar de incluir - ainda que em menor parcela - a parte africana e indígena na primeira revisão da Base Nacional Comum (na prática, o novo currículo das escolas). Outras áreas do conhecimento também sofrerão alterações.

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A Base vai estabelecer os conhecimentos e habilidades essenciais que todos os estudantes devem aprender na educação básica. História foi uma das áreas mais criticadas, por ignorar alguns pontos de conhecimento geral, para inovar em história indígena e africana. Em construção desde o ano passado, o documento deve ser encaminhado até o meio do ano para o Conselho Nacional de Educação (CNE). Desde que abriu consulta popular pela internet, o governo recebeu mais de 10 milhões de contribuições no basenacionalcomum.mec.gov.br

Essas colaborações foram consideradas pelo MEC ao divulgar nesta terça-feira, 16, diretrizes da revisão da primeira versão. Também foram considerados relatórios de um grupo de professores e pesquisadores convidados para atuar como revisores técnicos. Alguns desses pareceres foram divulgados.

Os encaminhamentos gerais de revisão são divididos por áreas. As indicações partem de uma lista resumida de demandas “principais” surgidas no processo de consulta. “Para os componentes de história e geografia, o processo de revisão tem se dado no sentido de mostrar as formas de integração entre o Brasil e processos históricos globais”, afirma, por exemplo, parte do texto do bloco de ciências humanas. Além disso, a revisão também deve ter uma melhor adequação de temporalidade no currículo, ponto criticado anteriormente.

Polêmica. Quando a primeira versão da Base veio a público, o então ministro Renato Janine Ribeiro impediu a divulgação da parte de história. Confirmando que haveria mudanças no texto, o atual chefe da pasta, Aloizio Mercadante, também disse que o texto apresentava falhas. O mesmo ocorria com o bloco de língua portuguesa - conforme publicado pelo Estado em outubro de 2015.

Em linguagens, a crítica maior era pela ausência de gramática. O documento de revisão fala, entre outros pontos, que serão introduzidos tópicos de análise linguística em todas as etapas de escolarização. 

Na educação infantil, a revisão deve diferenciar melhor o trabalho realizado com bebês e com crianças entre 4 e 5 anos. Também se propõe a explicitar como essa etapa se articula ao ensino fundamental, sobretudo à leitura e escrita. A primeira versão continha 1,7 mil objetivos de aprendizagem. A consulta popular reuniu 120 mil contribuições de reformulação e outros 20 mil sugestões de novos objetivos. Um grupo coordenado pela Universidade de Brasília (UnB) trabalha ainda na organização das colaborações, que se estenderá até abril.

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Com relação à estrutura geral da Base, o MEC definiu que precisa de “maior clareza” quanto aos princípios do documento, além de precisar esclarecer qual é sua natureza. Uma melhor articulação entre as etapas de escolarização e a importância de evidenciar progressão dos conhecimentos a cada ano e etapa também aparecem para a revisão.

Para Priscila Cruz, do Movimento Todos Pela Educação, o principal desafio será no conteúdo do ensino médio. “Ao mesmo tempo, estamos discutindo no Congresso a reformulação do ensino médio e os dois documentos são incompatíveis”, diz ela. “Mas sou otimista. O documento inicial não ia no sentido de uma ruptura, mas pelo menos agora colocaram de forma mais clara os princípios orientadores”, diz.

Conforme o MEC, uma segunda versão seguirá para debates nas Secretarias de Estado. Só a partir disso haverá uma terceira e uma última versão.

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