Mais da metade das crianças no 3º ano não sabe fazer conta de adição e subtração

Dados mostram que 54% dos alunos de 8 anos não conseguem fazer cálculos e têm nível de escrita e leitura insuficiente

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Por Isabela Palhares
Atualização:

SÃO PAULO - Mais da metade dos alunos do terceiro ano do ensino fundamental no Brasil não dá conta de resolver problemas simples de Matemática e nem conseguelocalizar informações em textos de literatura infantil. Segundo o Ministério da Educação (MEC), o baixo desempenho reforça a necessidade de antecipar em um ano a alfabetização - proposta da pasta para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que vai definir o que os alunos da educação básica devem aprender a cada ano.

Os resultados mostram que o País praticamente não avançou na qualidade do ensino nessa etapa inicial Foto: Reprodução Imagens/USP

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Os dados, divulgados nesta quarta-feira, 25, são da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) 2016, prova que foi realizada em novembro do ano passado por 2,1 milhões em 48 mil escolas públicas do País. 

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A ministra substituta da Educação, Maria Helena Guimarães Castro, diz que os resultados "não são bons" e mostram que o País está estagnado na mesma "situação de insuficiência" de dois anos atrás. Em Matemática, 54,5% das crianças tinham nível de proficiência considerado insuficiente no ano passado - em 2014, última edição da prova, o índice era de 57%. 

A avaliação classifica o conhecimento dos alunos em Matemática em quatro níveis. Em dois deles, o desempenho é considerado insuficiente para crianças dessa faixa etária. Os alunos que estão nesses níveis não conseguem ler as horas no relógio analógico tampouco são capazes de fazer cálculo de adição de duas parcelas ou resolver problemas de subtração com números de até dois algarismos. 

Em Leitura, 54,7% das crianças estão nos níveis considerados insuficientes - em 2014, eram 56,1%. Estes alunos não conseguem realizar tarefas como identificar informações explícitas localizadas no meio ou final de um texto. Em Escrita, 34% dos estudantes apresentaram proficiência insuficiente - eles, por exemplo, não conseguem escrever corretamente palavras com diferentes estruturas silábicas, como lousa ou professor. A edição do ano passado teve mudanças metodológicas nos testes de escrita, o que impossibilita a comparação dos dados com a avaliação anterior. 

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A média do País ainda esconde desigualdades regionais. Nas Regiões Norte e Nordeste, três em cada dez estudantes estão nos níveis considerados mais elementares de Matemática e Leitura. Enquanto no Sul e Sudeste, a proporção de alunos nesse nível não chega a 15% nessas duas áreas avaliadas. 

Especialistas alertam que os dados são preocupantes uma vez que a dificuldade no ciclo de alfabetização e a falta de interpretação de texto acompanham o aluno em toda a trajetória escolar. Nos anos seguintes, as crianças terão problemas para aprender outras disciplinas por falta dessas habilidades básicas.

"Quem não aprende a ler e escrever adequadamente, não tem a menor condição de continuar sua vida escolar com sucesso. Esse é o ponto que nos levou a antecipar a alfabetização para os dois anos iniciais", diz Maria Helena. 

A partir do próximo ano, a ANA será aplicada ao final do 2º ano do ensino fundamental. Medida que vem de encontro à proposta do MEC para a BNCC de antecipar a idade em que a criança deve estar plenamente alfabetizada. Alguns membros do Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão responsável por analisar o documento, mostraram preocupação com a antecipação sob o risco de aumentar a reprovação escolar. 

A especialista em educação infantil Cisele Ortiz diz que a preocupação não seria adiantar a alfabetização, mas a metodologia a ser usada em sala de aula.

"Temos que pensar o processo de forma mais ampla. A questão principal é a da formação dos professores, porque em muitas escolas do país a criança ainda é obrigada a escrever dez vezes a mesma palavra, copiar cabeçalho todo dia", afirma Cisele. 

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Em um esforço de melhorar os índices de proficiência dos alunos nessa etapa, o MEC anunciou o programa "Mais Alfabetização" por meio do qual vai destinar às redes de ensino municipal e estadual R$ 523 milhões para a contratação de professores assistentes para atuar junto com os titulares das salas de aula de 1º e 2º anos do ensino fundamental no apoio ao processo de alfabetização das crianças. 

O assistente vai receber uma bolsa, com valor que, segundo o MEC, ainda não foi definido, para atuar em sala de aula por cinco horas semanais. Eles vão atuar em 200 mil turmas, com 4,6 milhões de alunos em todo o País. Em 5 mil escolas, identificadas pelo ministério como mais "vulneráveis", os assistentes vão atuar por 10 horas semanais. 

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Segundo o MEC, as redes de ensino é que irão definir a contratação dos professores assistentes, se serão os já concursados, pessoas formadas ou estudantes de licenciatura.

Para o diretor de Políticas Educacionais do Movimento Todos pela Educação, Olavo Nogueira Filho, a proposta de um segundo professor não é inovadora no País, mas sua eficiência dependerá da formação e preparo desse assistente. 

"(É uma política) que aponta para o sentido correto, de reconhecer a necessidade de apoio ao professor. A medida chave é garantir o preparo que vai ser dado para esse assistente para que de fato contribua com o processo de alfabetização", diz.

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