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Mackenzie monta equipe para acompanhar preparação dos alunos de Arquitetura para o Enade

Direção também não descarta mudar grade horária e conteúdo programático do curso

Por Carlos Lordelo
Atualização:

A Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, nomeou um grupo que vai propor e acompanhar a preparação dos alunos de Arquitetura e Urbanismo para o próximo Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). O objetivo é repensar o modo pelo qual a prova é encarada na instituição. Também não estão descartadas mudanças na grade horária e no conteúdo programático do curso.

 

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A graduação em Arquitetura do Mackenzie teve desempenho insatisfatório em avaliação do Ministério da Educação (MEC) feita em 2011 e entrou numa relação de 38 cursos que tiveram a autonomia suspensa - não poderá, por exemplo, ampliar o número de vagas no vestibular ou oferecer o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

 

De acordo com os indicadores divulgados pelo MEC, a baixa performance dos alunos no Enade e problemas de infraestrutura são dois dos principais fatores que contribuíram para o curso do Mackenzie ter tirado nota 2, numa escala de 1 a 5, no Conceito Preliminar de Curso (CPC).

 

Segundo o diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da universidade, Valter Caldana, a equipe destacada para planejar a participação no Enade de 2014 contará com alunos e professores. Ele diz que o curso teve um "resultado atípico" na prova de 2011 e tomará medidas para que o desempenho melhore. "Se isto significar a necessidade de alterações na grade horária, elas ocorrerão. Se significar alteração de conteúdo programático, também", afirmou, por e-mail, ao Estadão.edu.

 

Caldana, que está em Paris, disse que serão implantadas "políticas de valorização da participação dos alunos" no Enade. Em 2011, a prova foi alvo de boicote de parte dos estudantes porque caiu na semana seguinte ou próxima à entrega dos trabalhos de conclusão de curso. "Os finais de semana são importantes para fazer os projetos, especialmente para quem faz estágio", afirmou na quarta-feira o estudante Miguel Lima, presidente do diretório acadêmico da faculdade na época do Enade. Ele negou que houve boicote "organizado e coletivo" ao exame.

 

Para o diretor da FAU, "se houve falta de empenho por parte de alguns alunos em função do calendário de entrega de trabalhos, esta é uma lição que deveremos aprender e assimilar, como tantas outras decorrentes da prova de 2011".

 

Confira abaixo a íntegra da entrevista concedida por Caldana:

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Alunos negam um boicote coletivo ao Enade de 2011. Mas quem fez a prova diz que não se empenhou porque o Mackenzie foi inflexível quanto às datas de entrega de projetos e trabalhos de conclusão de curso. Por que, na época, os alunos participantes do Enade não tiveram um prazo maior para entregar as pendências da faculdade, visto que muitos concluintes estagiam e só têm o fim de semana para fazer as atividades do curso?

 

É importante que se coloque, de início, que os alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie têm uma carga de estudo, trabalho e dedicação ao ensino bastante elevadas, trata-se de um curso "puxado", e o trabalho final de graduação é o ponto alto do seu processo de formação. É, portanto, natural que eles mesmos priorizem a qualidade deste trabalho, que é seu passaporte, seu cartão de visita profissional durante os três ou quatro primeiros anos da vida profissional.

 

Da mesma forma, o seu desempenho nos estágios tem sido sempre dos melhores, bastante elogiado. Hoje, segundo levantamentos, praticamente a totalidade de nossos alunos termina o curso já empregado. Neste sentido, quanto a flexibilizar datas, horários ou "facilitar" a vida dos alunos formandos, assim como prepará-los especificamente para a prova do Enade, esta não tem sido uma prática do curso nos últimos anos.

 

Temos sempre procurado encarar o exame como uma ação natural, onde o aluno se submete à prova sem que seja feita uma preparação específica, "um cursinho". Enfim, sem enfeites ou maquiagem. Este é o verdadeiro espírito do Enade  e esta sempre foi, de nossa parte, uma demonstração de respeito ao processo oficial e público de avaliação do ensino superior no Brasil.

 

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Se houve, como você está dizendo na pergunta, falta de empenho na prova por parte de alguns alunos em função do calendário de entrega de trabalhos, esta é uma lição que deveremos aprender e assimilar, como tantas outras decorrentes da prova de 2011. Mas é, sem dúvida, o início de uma explicação para o baixo desempenho obtido na prova.

 

Uma queixa frequente é a quantidade de alunos na sala (50 em cada turma). Estudantes alegam inclusive que já houve situação em que fizeram prova no corredor porque não havia espaço na sala. Existe a intenção de diminuir o número de alunos nas turmas já existentes e/ou nas novas turmas que entrarão pelo vestibular?

 

Primeiro, vamos ao episódio da prova no corredor. De fato ocorreu e se deu por um equívoco na locação de salas. Tratava-se de uma disciplina teórica onde há normalmente grande número de alunos em dependência e foi destinada uma sala inadequada para a realização da prova.

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Quanto à quantidade de alunos nas salas, lembramos que o curso de Arquitetura e Urbanismo possui uma relação de 1 professor para 50 alunos apenas nas disciplinas teóricas. Nas disciplinas práticas a relação é de 1 professor para 25 alunos e nas disciplinas projetuais, 1 professor para cada 15 alunos, o que garante um relacionamento intenso e direto entre os professores e os alunos. Lembramos que as disciplinas práticas e as disciplinas projetuais correspondem a aproximadamente 70% das disciplinas do curso. Esperamos que esta relação quantitativa (1:25 e 1:15) não se comprometa em função deste resultado do Enade, pois é um dos pilares da qualidade de ensino em nossa escola.

 

Não obstante, diversas ações vêm sendo colocadas em prática nos últimos dois anos pela reitoria e pela mantenedora para minimizar o problema de lotação das salas sobretudo nas aulas teóricas, inclusive com a troca de mobiliário e alteração de distribuição e layout, previstas para 2012/2013 no plano de reformas iniciado em 2010.

 

O que o sr. pretende fazer para melhorar a infraestrutura do curso? E o que já foi feito de 2011 para cá?

 

Gostaria de frisar que o curso é um dos poucos no Brasil que possui prédio próprio, de uso exclusivo. Nosso prédio foi construído na década de 60 e vem, desde então, passando por reformas e ampliações.

 

Como dissemos, nos últimos anos foram feitas reformas de ampliação e equipamento do prédio em 2007 e em 2010/2011, quando foram feitas as ampliações das áreas de convivência dos alunos, dos laboratórios e das bibliotecas.

 

Nos anos de 2012/2013 está sendo feita a troca e atualização de mobiliário de laboratórios e salas de aula e a ampliação da marcenaria. Será também mantida a política da reitoria de ampliação dos equipamentos dos laboratórios, no caso do curso de Arquitetura, particularmente os de informática e modelos de prototipagem digital.

 

O sr. considera os atuais laboratórios (em termos de número e qualidade) suficientes para atender às demandas do curso?

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Para o uso a que têm se destinado, sim. Hoje o curso conta com 9 laboratórios específicos, que vão de conforto ambiental a materiais, passando por informática e modelagem.

 

No entanto, como arquiteto, professor universitário e pesquisador eu jamais poderia dizer que estou satisfeito. Temos a obrigação de querer sempre mais e de buscar a excelência das condições de nosso trabalho.

 

Por exemplo, a reforma do projeto pedagógico que está em estudos desde o início do ano passado prevê um incremento enorme nos aspectos experimentais do curso, inclusive para a pós-graduação. Assim sendo, os investimentos em laboratórios deverão continuar sendo bastante grandes.

 

A FAU planeja mudar o currículo do curso em reação ao desempenho insatisfatório dos alunos no Enade?

 

Este resultado atípico no Enade de 2011, em que pese a existência de explicações atenuantes como, por exemplo, as aventadas em sua primeira pergunta, está sendo considerado pela alta direção da instituição, pela reitoria e pela comunidade do curso de Arquitetura e Urbanismo como um alerta.

 

Não vamos procurar as respostas mais fáceis ou os caminhos mais curtos. Isto não faz parte de nosso modo de agir, isso não faz parte do espírito de nossa escola. Neste sentido, medidas serão tomadas para que o desempenho no Enade melhore. Se isto significar a necessidade de alterações na grade horária, elas ocorrerão. Se significar alteração de conteúdo programático, também.

 

De antemão já sabemos que certamente significará uma alteração na maneira como a prova foi tratada, com a implantação de políticas de valorização da participação dos alunos.

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O Mackenzie já teve acesso a um relatório mais detalhados das falhas que precisa corrigir?

 

Não. Tivemos acesso, até o momento, apenas às médias gerais. Estamos aguardando ansiosos os relatórios detalhados e circunstanciados do MEC para que possamos deslanchar os estudos necessários para compreender os motivos da nota e corrigir as falhas apontadas. A comunidade toda, professores, alunos e funcionários, aguarda ansiosa a visita do ministério.

 

Segundo um ex-presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie (Dafam), o curso vem se deteriorando desde 2010, período em que o sr. já estava no comando da unidade. O aluno diz que a direção tem sido alertada desde então para os problemas. O que o sr. tem a dizer sobre essa crítica, inclusive a de que falta diálogo da direção da faculdade com os estudantes?

 

Ao contrário, nossa gestão é marcada pelo diálogo e por ser colegiada. Neste momento, por exemplo, já nomeamos o grupo de professores e estudantes que vai propor e acompanhar a preparação de nossa participação no próximo Enade.

 

Me permito destacar, ainda, que nestes três anos conseguimos implementar, na escola, com o apoio da comunidade acadêmica e da reitoria da universidade, os conselhos de curso, inclusive com representação estudantil, o colegiado da pós-graduação e o núcleo docente estruturante. Pouco a pouco resgatamos e recuperamos a importância da Congregação, onde também há representação estudantil.

 

São estes, todos, espaços institucionais de diálogo e construção democrática de decisões do dia a dia dos cursos e programas da escola que, infelizmente, ainda incomodam a alguns.

 

Apoiamos as coordenações de curso, tanto de Arquitetura e Urbanismo quanto de Design e a da pós-graduação naquilo que seja da alçada da diretoria e mantivemos um ótimo diálogo com as duas entidades estudantis da faculdade.

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Fazemos uma gestão sincera, respeitosa com nossa história, que apoia a inovação, que busca a excelência, de portas abertas.

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