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Livro sobre roubo do Enem expõe omissões

Obra relata que alertas sobre gráfica foram ignorados; ‘Estado’ revelou vazamento

Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:

SÃO PAULO - No ano em que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vazou e a prova foi cancelada, em 2009, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelo teste, ignorou dois avisos de que a gráfica incumbida da impressão não tinha segurança suficiente. É uma das principais revelações de O Roubo do Enem, da jornalista e fundadora da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca) Renata Cafardo (Editora Record, R$ 39,90). O livro será lançado no dia 30, na Livraria da Vila do Shopping Pátio Higienópolis.

'Claramente não havia condições de se fazer a prova naquele momento,' diz Renata Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO

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+++ Leia a edição do dia 2 de outubro de 2009 do Estado

Renata foi a responsável por revelar, nas páginas do Estado, o vazamento do exame. O problema prejudicou 4,1 milhões de estudantes inscritos em todo o País naquele ano.

O escândalo veio à tona depois de uma dupla de golpistas ter conseguido uma cópia da prova e tentado vendê-la, sem sucesso, para a jornalista. Em vez de pagar pela informação, o que é vetado pelo código de ética jornalística, a repórter marcou um encontro com os criminosos, viu a prova, memorizou parte das perguntas do exame e informou sobre o vazamento ao Ministério da Educação (MEC).

No livro, Renata mostra que, diferentemente do que foi divulgado à época pela imprensa, uma auditoria do Inep confirma que não houve falta de fiscalização da gráfica que imprimiu o Enem. Mas sim omissão em relação aos avisos emitidos pelos órgãos técnicos. Funcionários do próprio Inep que visitaram a gráfica em duas ocasiões, antes do roubo, disseram que “os procedimentos adotados não eram suficientes para garantir o sigilo da prova”, segundo nota técnica de 24 de agosto. Constatou-se que não havia câmeras em lugares estratégicos nem pessoal suficiente para fazer a ronda e fiscalizar o movimento na gráfica.

A nota, enviada ao Inep, recomendava ao órgão que outros servidores fizessem, “até o término de toda a impressão das provas em São Paulo, a supervisão dos trabalhos, em regime de revezamento, para garantir maior segurança de todo o processo”.

Dois ex-diretores do Inep, Heliton Ribeiro Tavares e Dorivan Ferreira Gomes, foram condenados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), à época, a pagar multas de R$ 5 mil e R$ 3 mil. O ex-presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, e o então ministro da Educação, Fernando Haddad, não sabiam da existência das notas técnicas. “Claramente não havia condições de se fazer a prova naquele momento”, lembra Renata.

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O Estado não conseguiu contato com os ex-diretores. Já Fernandes destacou que o Inep não teve participação na contratação da gráfica. “Evidentemente, conhecendo o resultado final, é fácil propor mudanças. Mas, tendo as informações que tinha na época, acho que tomaria as mesmas decisões.”

Revelações. O Roubo do Enem traz uma série de fatos inéditos sobre o episódio que alavancou o jornalismo de educação no País, com sucessivas manchetes dos principais jornais. Renata conta, por exemplo, como o ex-secretário de educação superior do MEC, Luiz Cláudio Costa, usou a prova de uma bolsa de iniciação científica para “esconder” o pré-teste do Enem e, assim, evitar o vazamento da prova, como em anos anteriores.

O livro destaca a trajetória do exame, antes e depois do vazamento, e a dura relação entre imprensa, polícia e Ministério da Educação para solucionar o caso. “Imagino que um grande vazamento desses não possa mais acontecer. Fizeram muitos aperfeiçoamentos”, afirma a autora, que recebeu prêmios pelo trabalho, como o Ayrton Senna, e foi finalista do Esso. 

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