Lema criou pressão sobre ministério e expôs disputa no governo

Secretaria de Assuntos Estratégicos e pasta da Educação elaboraram propostas distintas para condução da área

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Por Paulo Saldaña
Atualização:

SÃO PAULO - Além de não mostrar realizações para legitimar o lema “Pátria Educadora”, o governo teve dificuldade de transmitir para a sociedade o significado do mote. O único momento em que o debate em torno do projeto veio à tona foi quando o então ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger divulgou um documento com o título “Pátria Educadora”. A iniciativa mais expôs a disputa entre Mangabeira e o MEC do que mostrou caminhos para o setor.

A escolha do lema não passou pelo MEC. Foi uma decisão da presidente Dilma Rousseff e seus assessores. Dentro da pasta, o comentário era de que a escolha criara uma pressão constante sobre a pasta.

Além de não mostrar realizações para legitimar o lema “Pátria Educadora”, o governo teve dificuldade de transmitir para a sociedade o significado do mote Foto: Werther Santana/Estadão

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O ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro afirma que, “em tese”, a escolha é boa porque veio como forma de dar continuidade à marca do primeiro mandato (País rico é país sem pobreza). “A ideia inicial é acabar com a pobreza, no primeiro mandato. Para se acabar com a pobreza é pela educação, no segundo mandato, essencialmente uma educação que capacite as pessoas para o trabalho.”

Janine Ribeiro acredita que o mote coloca a educação no centro do governo. “Mas esse lema não foi escolhido pelo MEC, veio de cima”, diz.

A divulgação do documento por Mangabeira foi feita logo depois de Janine Ribeiro assumir a pasta. Pelo teor da proposta – que trazia pontos que envolvem atribuições do MEC –, criou um mal-estar no governo. Segundo fontes dentro do MEC, Mangabeira recebera a missão de criar o escopo conceitual da Pátria Educadora, mas, com pretensões de se tornar titular da Educação, avançou. Divulgou o documento sem encaminhá-lo ao ministro.

O texto foi criticado pela maioria dos especialistas. Para Luiz Carlos de Freitas, da Faculdade de Educação da Unicamp, o debate em si não produziu avanços. “Ao menos motivou o MEC a elaborar uma proposta alternativa, com outra filosofia, um pouco mais avançada na direção de um maior envolvimento de todos e não de uma responsabilização do governo federal pela indução de políticas de pressão sobre os Estados.” A reportagem não conseguiu falar com Mangabeira.

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