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Invasão ainda muda escola após 1 ano

Na emblemática Fernão Dias Paes, símbolo das ações contra a reorganização paulista, rotina escolar passou a misturar conflito e diálogo

Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:

SÃO PAULO - Dia sim, dia não, a cabeça da estátua do bandeirante Fernão Dias Paes, na entrada da escola de mesmo nome, em Pinheiros, na zona oeste da capital paulista, amanhece coberta com um saco plástico. “Coitado do Fernão”, diz a diretora do colégio, Lucila Françoso, há dois meses no cargo. “Coitado nada”, respondem as alunas responsáveis.

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A ação das estudantes é um lembrete de que ali houve uma das invasões mais longas das escolas estaduais paulistas contra a chamada reorganização do ensino – projeto que fecharia 94 colégios e transferiria estudantes para aumentar o número de unidades de apenas um ciclo (ensino fundamental ou médio). E o cabo de guerra com a direção é um sinal de que, um ano depois dos protestos, o clima de tensão persiste.

Se antes o problema era a falta de diálogo com os alunos, agora o embate é constante – e pelos mais diversos motivos. Na Fernão Dias Paes, que se tornou símbolo das mobilizações, a diretora que atuava na unidade precisou ser transferida por causa do conflito com os alunos, que pediram em carta pública a sua saída. De lá para cá, ao descobrirem que podiam ser ouvidos, as demandas cresceram. “Todo dia entra algum aluno na minha sala com um projeto novo”, diz a nova diretora.

Os pedidos vão de auxílio para comprar uniforme, realização de eventos diversos à formação de grêmio. “Não sabíamos quais eram os nossos direitos”, diz a estudante Letícia Lima, de 18 anos e aluna do 3.º ano do ensino médio.

Uma das reclamações era sobre a obrigatoriedade de usar a camiseta do colégio e de portar carteirinha. Para encerrar a polêmica, a diretoria fez uma votação interna. Venceu a democracia “conquistada”, mas perdeu-se a mudança: a maioria optou por manter tanto a roupa quanto o documento oficial.

Para alguns professores, no entanto, tal “poder” fez com que muitos jovens perdessem o respeito pela ordem na escola. “Tem mais abertura para os alunos, mas acho que a maioria não está sabendo usar a liberdade. Eles acham que podem tudo. Assistem às aulas que querem, entram e saem na hora que bem entendem”, diz a professora de Português Laura Marcela Sanchez de Toca. Letícia Karen, de 16 anos, se justifica. “Quando ocupamos, a gente teve a possibilidade de sentir uma nova escola. Não é fácil voltar para a escola real, uma cela com um professor na frente”, diz.

Desconfiança. Na Escola Estadual Diadema, primeira a ser tomada no Estado, em 9 de novembro de 2015, um clima de desconfiança acirra os ânimos entre direção e parte dos alunos. Quando o governo federal anunciou a medida provisória que vai modificar o ensino médio, o colégio recebeu cartazes para explicar que “nada mudaria” em 2017 até que houvesse debate com a comunidade. Mas a estudante Rafaela Boani, de 17 anos, aluna do 3.º ano, não comprou a ideia: saiu rasgando os avisos que viu pela frente. “O governo (Alckmin) disse que discutiria a reorganização caso a caso neste ano e nada aconteceu. Por que eu acreditaria nele (governo federal) agora?”

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