Hierarquia inibe inovação no Brasil, diz engenheira norte-americana

Para diretora de Desenvolvimento da CH2M Hill, este cenário desafia jovens profissionais

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Por Carlos Lordelo
Atualização:

SÃO PAULO - O respeito à hierarquia inibe a inovação nas empresas brasileiras, enquanto nos EUA produzir novas tecnologias está no DNA da população. A análise é da diretora de Desenvolvimento da CH2M Hill na América Latina, Eleanor Allen. Nesta terça-feira, 6, a executiva deu uma palestra sobre oportunidades e desafios para os jovens engenheiros no Brasil, no câmpus da PUC-SP na Consolação, centro.

 

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"A base da nossa cultura (dos EUA) é produzir tecnologia e inovação. Aqui, sinto uma diferença: não é muito bom oferecer uma ideia nova porque pode te trazer problemas, pode ser visto como falta de respeito", afirmou Eleanor, por telefone, antes da conferência. "Aqui, é mais complexo quebrar paradigmas."

 

A engenheira norte-americana, de 43 anos, vive no Brasil desde janeiro do ano passado. Mora no Rio de Janeiro com o marido e dois filhos, um de 11 e outro de 6 anos. Como já havia trabalhado em Porto Rico por cinco anos, teve facilidade para aprender português. Mas ainda fala com um forte sotaque espanhol.

 

Dominar outras línguas, aliás, é uma das habilidades que os estudantes de Engenharia devem desenvolver, segundo Eleanor. "Há coisas que ele não encontra na formação universitária, então deve correr atrás, como aprender a se comunicar, escrever e trabalhar em equipe."

 

A executiva ressalta o bom momento para a engenharia brasileira em razão do crescimento da economia e dos grandes eventos esportivos que serão realizados por aqui nos próximos cinco anos. "Existe demanda por engenheiros de todas as formações", diz.

 

Recomendações

 

Para aproveitar essa onda, Eleanor recomenda que os alunos busquem se qualificar no exterior ainda durante a faculdade, em programas de intercâmbio acadêmico. Ela, por exemplo, cursou o 3.º ano de Engenharia na Holanda e aproveitou os créditos quando voltou aos EUA.

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Outra dica da executiva: estagiar em multinacionais, para "entender como funciona o mundo fora da faculdade e do Brasil". Também é importante conversar com quem já está trabalhando na área, perguntar sobre o dia a dia da profissão e aconselhar-se. "É importante se inspirar na carreira de alguém para traçar metas."

 

Para quem está pensando em desistir do curso, Eleanor lembra da consistência da formação. "A faculdade é uma pequena parte de sua vida. Ela te dá ferramentas para o futuro, te ensina a pensar como resolver problemas, amplia sua visão e desenvolve seu raciocínio lógico. Isso é útil para várias coisas no futuro."

 

A norte-americana destaca ainda que após a colação de grau o jovem engenheiro deve trabalhar em áreas diferentes para escolher no que se especializar. "Eu trabalhei por cinco anos com saneamento, e isso foi fundamental para eu escolher o meu mestrado. Já queria fazer a pós na área ambiental durante a faculdade, mas não tinha 100% de certeza", conta Eleanor.

 

Engenheira Civil formada pela Universidade Tufts, no Estado do Massachusetts, a executiva fez mestrado em Engenharia Ambiental na Universidade da Califórnia em Berkeley e completou o programa de formação executiva da London Business School.

 

Maratona

 

A palestra de Eleanor ocorreu durante a etapa nacional da 8.ª Maratona Global de Engenharia. O encontro ocorreu em São Paulo e foi transmitido para todo o mundo via internet. A maratona termina no sábado, com conferências em outros continentes.

 

É possível acompanhar as atividades online. Basta se cadastrar no site http://www.smerbdesigns.com/global_marathon_epostcard/epostcard01.html 15 minutos antes de cada ciclo de palestras.

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Todas as apresentações são lideradas por mulheres que atuam nas áreas de engenharia e tecnologia. O evento visa a discutir os desafios de alimentar os 7 bilhões de habitantes da Terra.

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