Crianças que passam pela experiência do divórcio dos pais durante os três primeiros anos do Ensino Fundamental correm mais risco de ter pior desempenho em matemática e menos habilidades sociais. Também estão mais propensas a sentimentos de ansiedade, solidão, baixa autoestima e tristeza. A conclusão é de um estudo da University of Winsconsin-Madison, publicado na edição deste mês da revista científica American Sociological Review. E, para o Brasil, essa relação também vale.
De acordo com um levantamento feito pelo Instituto Glia com 5.961 crianças e adolescentes de 17 Estados do País, filhos de pais divorciados têm 50% mais riscos de ter baixo desempenho escolar e estão 100% mais expostos a problemas de saúde mental.
A estudante Amanda Marciano Rodrigues Paulino, de 13 anos, por exemplo, se enquadra nessa estatística. Após a separação dos pais, ela mudou de escola algumas vezes e precisou de aulas extras de matemática. Para acompanhar melhor a disciplina, o jeito foi apelar para o método Kumon.
Veja também:
“Um fator está relacionado ao outro”, analisa o médico Marco Antonio Arruda, diretor do Instituto Glia. “Crianças com problemas em áreas de saúde mental (afetiva, emocional) têm maior risco de baixo desempenho escolar e dificuldades sociais.”
Na avaliação de educadores e terapeutas de família ouvidos pelo Jornal da Tarde, mais importante do que ter pais casados é garantir à criança a possibilidade de viver em um ambiente familiar harmônico e saudável. “O que observamos na prática pedagógica é que, quando há problemas na estrutura familiar, independentemente do estado civil dos pais, surgem problemas importantes – ou no aspecto social, ou na aprendizagem”, observa a pedagoga Viviane Verdasca, coordenadora do Ensino Fundamental I do Colégio São Luís.
O estudo da University of Winsconsin-Madison se baseou em dados de uma pesquisa anterior que analisou 3.585 crianças americanas desde que entraram no jardim de infância até o quinto ano do Ensino Fundamental.
No total, 142 crianças passaram pelo divórcio dos pais entre o primeiro e o terceiro ano. Apesar de não apresentarem diferença de desempenho em relação ao teste de leitura, elas se mostraram menos aptas quando submetidas ao exame de matemática.
Segundo a observação de seus professores, os filhos de pais divorciados também apresentaram menos habilidades sociais durante e após o processo de separação.
Entre as aptidões avaliadas estavam a de fazer e manter amigos, ajudar outras crianças, expressar sentimentos, ideias e opiniões de um jeito positivo e mostrar-se sensível ao sentimento dos outros. Apenas no período em que se deu o divórcio, sentimentos de solidão, tristeza e ansiedade foram mais prevalentes nesse grupo.
Novas famílias
Para o educador Sílvio Barini Pinto, diretor do Colégio São Domingos, é comum observar mudanças de comportamento e desempenho nos alunos quando o divórcio é recente. “Com as novas configurações familiares se generalizando, as crianças encontram em suas relações colegas da mesma idade e possibilidade de trocas de experiências sobre essa realidade”, diz. “Assim, aprendem uns com os outros formas de lidar com pais e mães separados, com padrastos e madrastas, com irmãos de pais diferentes.”