Feira de ciências e engenharia reúne 325 projetos na USP

Trabalhos foram desenvolvidos por alunos do ensino fundamental, médio e técnico de todo o País

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Por Carlos Lordelo
Atualização:

SÃO PAULO - Estudantes de todo o País estão reunidos esta semana, em São Paulo, para apresentar seus projetos de pesquisa durante a 10.ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace). Nesta edição, o evento expõe 325 trabalhos de 748 alunos de escolas públicas e particulares de ensino fundamental (8.º e 9.º anos), médio e técnico. A feira começou nesta terça-feira, 13, e termina na quinta, 15, em uma supertenda montada no estacionamento da Escola Politécnica da USP, no câmpus do Butantã, zona oeste. A entrada é gratuita e a programação pode ser conferida no site http://febrace.org.br.

 

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Os autores dos melhores trabalhos serão premiados com medalhas, bolsas de iniciação científica, certificados e vagas de estágio. E, entre os finalistas de cada categoria, a comissão julgadora selecionará 9 projetos para representar o Brasil na Feira Internacional de Ciências e Engenharia (Isef, na sigla em inglês), patrocinada pela Intel e marcada para os dias 13 a 18 de maio em Pittsburgh, nos EUA.

 

A Febrace agrupa projetos nas áreas de engenharia, ciências humanas e da terra, humanas, sociais aplicadas, biológicas, saúde e agrárias. Os trabalhos expostos foram selecionados entre 1.505 inscritos, submetidos diretamente pelos estudantes ou classificados de acordo com avaliação em feiras de ciências afiliadas.

 

Alunas do Colégio Engenheiro Juarez Wanderley, mantido pelo Instituto Embraer em São José dos Campos, representam a escola com uma máquina que produz sabão em barra reutilizando óleo de cozinha. O processo demora 20 minutos e o sabão, após secagem, fica pronto em dois dias. A ideia original era melhorar um equipamento feito por um ex-aluno do Juarez, mas as estudantes Candace Vasconcelos, Érica Pinheiro e Francielli Neves decidiram criar uma nova máquina.

 

"A antiga funcionava à pilha, demorava mais tempo e só produzia sabão líquido. Resolvemos fazer outra, que fosse mais rápida e entregasse sabão em barra", conta Candace, de 17 anos, que pretende prestar vestibular para Engenharia Civil na Poli, assim como sua colega Francielli, de 16. Érica, de 17, quer Biomedicina. Elas estão no 3.º ano do ensino médio e desenvolveram o projeto em uma disciplina extracurricular.

 

Potencial

 

Segundo a professora da Poli Roseli de Deus Lopes, coordenadora geral da Febrace, o evento visa a estimular a criatividade na escola. "Todo mundo nasce cientista, mas há escolas que destroem isso ao longo do tempo", afirma. Ela reconhece, no entanto, que o desafio não é exclusivamente brasileiro. E faz um apelo aos professores para que orientem os alunos a desenvolver olhar científico sobre problemas do dia a dia.

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Na feira, diz Roseli, os aproximadamente 800 avaliadores são orientados a olhar não só o projeto final, mas o processo de produção do conhecimento. "Não é para eles se preocuparem apenas com o que é realmente inovador e pode gerar patente, mas avaliar as pessoas e a forma como elas chegaram até aqui. Ainda mais porque são alunos da educação básica."

 

Roberto Koji Onmori, professor da Poli e um dos avaliadores mais experientes, diz que busca até mesmo orientar os estudantes. "Como são muito imaturos, dou dicas de como escrever melhor de acordo com a metodologia científica. E quando vejo bons projetos, incentivo os garotos a corrigir os pontos fracos e avançar na ideia."

 

As sugestões de melhorias também partem do público. Segundo o aluno de curso técnico em eletrônica Denis Teixeira, de 16, um visitante esteve em seu estande e fez observações sobre aspectos que o estudante não havia pensado. Junto com o colega Lucas Orosque, de 17, Denis criou o Intelligent Road Service, sistema que avisa às seguradoras quando um motorista sofre acidente de carro.

 

Um sensor instalado junto com o air bag dispararia um alarme nas centrais de atendimento, informando a localização da batida e dados sobre o passageiro, e também cortaria o sistema de ignição. Denis e Lucas, alunos da Escola Técnica Rezende Rammel, do Rio de Janeiro, querem corrigir falhas do projeto para depois pedir a patente do sistema. "Vamos tentar vender para alguma montadora", afirmam.

 

Nordeste

 

Ainda na área destinada aos projetos de engenharia, os estudantes cearenses Cassiano Oliveira dos Santos e Manoel Filho dos Santos, ambos de 18, chamavam a atenção pelo visual. Por cima da camisa da Febrace - "farda" de 9 entre 10 expositores - os alunos usavam blazer. E com ar de seriedade apresentavam seus robôs desenvolvidos com material reciclável na Escola de Ensino Médio Raimundo Nogueira, de Horizonte, distante 40 quilômetros de Fortaleza.

 

Um dos robôs tinha braços de desodorante roll-on, corpo de lata de refrigerante e andava com a energia de um relé (interruptor) de pisca-alerta de carro. Mexia a cabeça para os lados e seus olhos de LED acendiam e apagavam. A criatividade demorou para sensibilizar a prefeitura. "Passamos um ano pedindo cinco baterias. Só deram quando a gente estava quase vindo para cá", diz Cassiano. Ele e Manoel pretendem fazer vestibular para Engenharia Mecatrônica.

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Na Febrace também há espaço para pesquisas na linha de uma monografia. Alunos do ensino médio integrado ao técnico em agropecuária do Instituto Federal Baiano, Ariel Galdino, de 17, e Caique Carneiro, de 18, expõem o trabalho "Escravidão e Liberdade em Cartas de Alforria". Eles pesquisaram cartas de alforria assinadas entre 1878 e 1888: encontraram 52 só no fórum de Catu, cidade a 80 quilômetros de Salvador onde funciona o câmpus onde estudam.

 

"Descobrimos que mais mulheres pagavam para ser alforriadas, até porque naquela época elas já trabalhavam prestando serviços externos", conta Ariel. Caique completa: "A pesquisa nos colocou em contato direto com a fonte. Assim, pudemos fazer nossa própria interpretação da história."

 

O gerente de Educação da Intel Brasil, Rubem Saldanha, afirma que os participantes da Febrace não são "calouros comuns" quando passam no vestibular. "Eles já entram na universidade com uma visão de ciência. Muitos continuam engajados na pesquisa", avalia. Segundo ele, "infelizmente", a maioria dos estudantes não vê a carreira acadêmica como promissora. "Precisamos fomentar a pesquisa na escola para ter melhores cientistas na universidade e na iniciativa privada."

 

* Atualizada às 23h para incluir o intertítulo 'Nordeste'

* Atualizada às 20h40 do dia 14/2 para incluir a entrevista com Rubem Saldanha

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