Estudantes têm em média 40 anos

Azulejista de 54 anos quer se alfabetizar e parar de 'passar vergonha'

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Por Mariana Mandelli
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Na parede, papéis coloridos retratam as letras do alfabeto, enfileiradas, e os números, em ordem crescente. O ambiente parece contrastar com os alunos, cuja média de idade é de 40 anos. Todos com o objetivo de aprender, finalmente, a ler e escrever de forma plena.A sala de aula fica dentro da Fundação Gol de Letra, na Vila Albertina, zona norte de São Paulo. No espaço, 18 alunos de Educação de Jovens e Adultos (EJA) participam do projeto de alfabetização da AlfaSol, organização não governamental voltada para o tema.É o caso de Antonio Gomes Bezerra, de 54 anos, que retomou os estudos há um ano, segundo ele, por “necessidade”. Ele parou de estudar duas vezes – uma aos 12 anos, outra aos 14 – e voltou agora porque “cansou de passar vergonha”.“Para preencher uma ficha em qualquer lugar eu tinha de pedir ajuda”, lembra ele, que só sabia assinar o nome. A volta foi possível porque a família o apoiou. “Meus filhos incentivaram muito”, diz ele, que é do Rio Grande do Norte e trabalha com colocação de azulejos.Em classe, as últimas atividades da turma foram ditados, leitura de textos e lições com o nome próprio. A professora Fernanda Lacerda, de 34 anos, é ex-aluna de EJA. Ela engravidou aos 17 anos e precisou parar de estudar na ocasião. “Voltei com 23 anos e fui para uma escola regular porque não tinha vaga de EJA onde eu queria”, lembra. Hoje, Fernanda leciona das 18 às 21 horas, de segunda a quinta-feira. “É uma troca maravilhosa, e a gente pode perceber como a história de vida das pessoas influencia na educação delas.”Fernanda atribui a queda na procura principalmente à rotina dos alunos. “Antes, a disputa era grande e tinha até lista para encher duas salas”, diz. “Mas alguns têm dificuldade com horário, por conta do trabalho, da casa, de ter que cuidar dos filhos e netos.”Para não faltar, a auxiliar de limpeza Orlinda Martins, de 38 anos, já chegou a levar os filhos para a sala de aula. “Quando não acho gente para ficar com os meninos, trago os dois comigo”, conta ela. “Mesmo cansada, eu venho.”Orlinda, que veio da Bahia, frequentou até a 4.ª série e aprendeu a ler e escrever. “Mas passei muito tempo afastada e meu filho tem dificuldade na escola”, explica. “Por isso, eu precisava saber mais até para ajudá-lo nas tarefas.”

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