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Estudantes anunciam desocupação da 1ª escola tomada no Rio

Durante coletiva, chefe de gabinete da secretaria de Educação discutiu com docente grevista e foi expulso aos gritos de 'fascista'

Por Alfredo Mergulhão
Atualização:

RIO - Primeira unidade tomada por estudantes no Rio, o Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes, na Ilha do Governador, zona norte, foi desocupado na tarde desta segunda-feira, 16. Os alunos deixaram a escola após 56 dias.  Eles tiveram as principais demandas atendidas pela Secretaria Estadual de Educação (Seeduc), como eleição direta para escolha do diretor e o fim do Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro (Saerj). Mais 79 escolas estão ocupadas no Estado.

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Os estudantes afirmaram que vão se manter mobilizados. “Se for preciso ocupar a Seeduc, nós ocuparemos. Nós construiremos a Seeduc, nós mostraremos quem manda. Porque se eles dizem que trabalham porque nós existimos, então vamos fazer isso acontecer. Eles vão trabalhar para quem devem trabalhar, para o professor e o estudante”, disse João Victor da Silva Barbosa, de 18 anos, do 3º ano do ensino médio.

No acordo com a secretaria, ficou acertado um calendário de visitas às escolas ocupadas para levantar pautas específicas a serem atendidas. Cada colégio fará documento com as necessidades e receberá verba de R$ 15 mil para obras emergenciais.

Estudantes contrários e favoráveis à ocupação chegaram a entrar em confronto duas vezes no Mendes de Moraes. Enquanto alunos desocupavam a escola ontem, o movimento Desocupa investiu nos colégios estaduais Visconde de Cairu e Central do Brasil, no Méier, zona norte.

Estudantes e governo fizeram coletiva nesta manhã Foto: Facebook/Reprodução

O anúncio da desocupação foi tenso. O chefe de gabinete da Seeduc, Caio Castro Lima, esteve no colégio para dar a informação ao lado do comando dos estudantes. Ele foi chamado de fascista por uma professora grevista no momento em que afirmava não apoiar o movimento que pedia a desocupação da unidade. Lima mandou a docente se calar e acabou expulso da escola sob protestos dos alunos. Apesar do bate-boca, a decisão de desocupar a escola foi mantida.

Após o incidente, Lima entregou o cargo. “Fui lá fechar acordo que resultaria na desocupação da escola para a retomada das aulas. Uma professora me chamou de fascista e mandei que ela calasse a boca, pois essa senhora não sabe o que é isso.” Segundo ele, o governo cedeu em tudo o que poderia e a discussão só aconteceu porque parte dos professores não quer que o movimento dos alunos termine. Lima já pedira exoneração há dez dias, mas foi convencido pelo governador em exercício, Francisco Dornelles (PP), a permanecer no cargo, pois era o responsável pela negociação com os invasores.

Em nota, a Seeduc lamentou que “um excelente profissional” tenha sido agredido e insultado. “Desde o início das ocupações, o chefe de gabinete vinha cumprindo uma agenda de conciliação com enorme sucesso e foi interrompido por pessoas que parecem não querer o fim do movimento de ocupações de escolas, o que a Seeduc considera lamentável”, diz o comunicado. A secretaria informou que todos os pontos acordados estão mantidos.

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Os alunos do Mendes de Moraes aproveitaram o anúncio de desocupação para romper com entidades estudantis que apoiavam suas ações. De acordo com Barbosa, o comando das ocupações, formado por dois representantes de cada escola, “foi tomado por parasitas de entidades estudantis que só querem defender seus interesses e não o interesse de cada escola”.

O comando reúne membros da Assembleia Nacional dos Estudantes Livre (Anel), ligada ao PSTU e primeira apoiadora das ocupações, da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e da União da Juventude Socialista (UJS), ambas controladas pelo PC do B. Há ainda integrantes da Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas do Rio de Janeiro (Ames) e da Associação de Estudantes Secundaristas do Estado do Rio de Janeiro (Aerj).

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