Escolas de São Paulo se preparam para adaptar novo aluno

Segundo especialistas, equalização de conteúdos leva, em média, seis meses; processo vale até para adultos na pós-graduação

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Por Edison Veiga e Paulo Saldaña
Atualização:

SÃO PAULO - A escritora Liliane Prata comentava com a mãe, por telefone, o quanto estava apreensiva com a mudança da escolinha da filha Valentina, de quase 4 anos, quando foi interrompida pela menina, que ouvia a conversa. "Olha, mãe... Lá eles cuidam direitinho das crianças, viu?", disse a menina, para conforto conjunto de mãe e avó. A vida nova na escola ou a volta à aulas pode causar apreensão não só nos pais, mas também nos alunos. Escolas e professores criam estratégias para que a adaptação não seja traumática e que o desempenho escolar não fique comprometido. E os primeiros dias são essenciais, explicam os educadores. No caso da filha de Liliane, a mudança foi para ter maior flexibilidade de horário. "Na escola anterior, os turnos eram de 4 horas por dia, sem exceção", conta Liliane. "Como eu e meu marido trabalhamos em casa, não havia muito problema. Mas quando tínhamos muitas reuniões externas, era sempre um transtorno." Na nova escola, Valentina pode ficar das 8h às 18h. Liliane prefere deixá-la das 10h às 17h, em geral.

Sonho. Rafael Santos trocou a escola municipal por um colégio de elite, com bolsa: 'Aqui tem coisas que nunca vi' Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Valentina começou na nova escola no dia 27. Nos primeiros quatro dias, a mãe ficou lá o tempo todo - na recepção, longe do olhar da filha, mas podendo ser acionada rapidamente. "Na hora de entrar ela ainda emperra um pouco, mas quando pego no final do dia, está superfeliz e falante."

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Segundo Ligia Colonhesi Berenguel, vice-diretora da Escola Villare, a presença da família nas primeiras aulas pode ser importante para estabelecer uma confiança. Neste ano, os professores escreveram cartinhas para as crianças antes do início das aulas, com uma foto e alguma preferência deles. "É um jeito de começar a socializar com a turma. E a mãe conta para a criança como se fosse um presente." Já na sala de aula, a escola preparou uma espécie de portfólio da criança, com fotos e gostos pessoais.

Esforço.

A preocupação com a adaptação não se restringe aos mais novos. A primeira semana de aulas tem sido de descoberta e esforço redobrado para o estudante Rafael Santos, de 14 anos. Se não bastasse a passagem para o 1.º ano do ensino médio, o jovem trocou a escola municipal do Jardim São Luís, no extremo sul de São Paulo, pelo Lourenço Castanho, colégio particular no Itaim-Bibi. "Foi uma mudança grande ver toda essa estrutura, os professores são muito diferentes. E os alunos são comprometidos", diz.

Rafael mora com a mãe, que é diarista. Conseguiu uma bolsa pelo Ismart, instituto que apoia jovens talentosos em escolas de elite. Foram sete meses de processo seletivo. Agora, são quase duas horas de viagem entre casa e escola. "Antes, estudava do lado de casa, agora tem esse trajeto todo. Mas ter essa oportunidade é realizar um sonho." O jovem conta que a adaptação tem sido tranquila. A maior dificuldade é o conteúdo. "Aqui tem coisas que nunca vi, então estou me esforçando."

Em média, essa equalização de conteúdos leva cerca de seis meses, segundo Inês França, gerente do Ismart responsável pela equipe de acompanhamento dos bolsistas. "A adaptação de conteúdo varia muito a cada aluno, mas no primeiro semestre tudo costuma estar resolvido."

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Segundo a diretora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Neide Noffs, as pesquisas mostram que a adaptação precisa ser bem cuidada para não refletir em problemas no desempenho. "Adaptar-se não é se ajustar. Mas é se familiarizar com o ambiente, se sentir seguro", diz ela. "Esse processo vale desde a educação infantil até a pós-graduação."

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