Ensino melhora em SP, mas segue distante da meta do governo

Em 2015, fundamental 1, fundamental 2 e médio apresentaram melhora em indicador do Idesp pelo segundo ano consecutivo

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Por Isabela Palhares
Atualização:

SÃO PAULO - O desempenho em Matemática e Português dos alunos da rede estadual paulista melhorou em 2015 nos três ciclos de ensino (fundamentais 1 e 2 e médio), segundo dados da última edição do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), divulgados nesta quinta-feira, 4. Apesar disso, a média alcançada ainda está longe da meta estipulada pelo próprio governo estadual. A exceção é a média de Português obtida pelo 5.º ano do fundamental, considerada “adequada”. 

Os resultados mostram uma tendência já observada em outros anos. O movimento, de acordo com especialistas, tem sido de alta nos anos iniciais do fundamental, mas estagnação nas etapas seguintes.

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No 5.º ano do fundamental, a média do Estado foi de 212,7 em Português e 223,6 em Matemática, um aumento de 4,4% e 3,2%, respectivamente, em relação ao ano anterior. O patamar considerado adequado para as disciplinas é de 200 e 225. Em 2014 a etapa atingiu a média considerada adequada em Português pela primeira vez, o que significa, por exemplo, que os alunos conseguem identificar os episódios principais de uma narrativa e organizá-los em sequência lógica.

Já a média do desempenho dos alunos do 9.º ano aumentou 2,8%, em Português, e 4,9% em Matemática. Mas em nenhuma das disciplinas o desempenho está dentro do “adequado”. O mesmo ocorreu no 3.º ano do ensino médio que, apesar do aumento de 0,9% na nota de Português e de 3,9% em Matemática, ainda assim não está dentro do “adequado”. O que significa, por exemplo, que os adolescentes não conseguem interpretar informações transmitidas por meio de gráficos.

No entanto, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) destacou como positivos os resultados. “Há avanços impressionantes. Até 2030 vamos chegar ao desempenho dos países mais desenvolvidos, porque tivemos uma grande evolução em todos os ciclos. É extraordinário o salto que foi dado em Português e Matemática”, disse.

O Saresp avalia a rede em quatro níveis: “abaixo do básico”, “básico”, “adequado” e “avançado”. Os alunos enquadrados nos níveis “básico” e “adequado” têm aprendizado considerado suficiente para a Secretaria da Educação. Apenas aqueles nivelados no patamar “abaixo do básico” têm domínio do conhecimento considerado insuficiente para aquela etapa.

Idesp. Os resultados das notas dos estudantes nas provas de Matemática e Português integram o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp), que também é combinado com as taxas de aprovação, reprovação e abandono escolar. Pelo segundo ano consecutivo, os três ciclos tiveram melhora no índice, que ainda permanece distante da meta do próprio governo.

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Com escala de 0 a 10, o índice para o primeiro ciclo do ensino fundamental (do 1.º ao 5.º ano) foi de 5,25. No ano passado, foi de 4,76. Já para o segundo ciclo do fundamental (do 6.º ao 9.º ano), o índice subiu de 2,62 para 3,06 neste ano. No ensino médio, o Idesp passou de 1,93 para 2,25. A meta do governo para 2030 é que o índice chegue a 7, 6 e 5 para cada uma das etapas, respectivamente. 

“Os resultados foram extremamente auspiciosos. Nós estamos nos aproximando mais rapidamente do que pensávamos da meta estabelecida para 2030 e ainda temos 15 anos para chegar lá. A velocidade com que estamos avançando no ensino paulista é um recado claro de que a educação de São Paulo está no caminho certo”, disse José Renato Nalini, secretário de Educação, que assumiu a pasta há dez dias.

De acordo com a secretaria, essa é a primeira vez que os resultados do Idesp são divulgados a tempo para as reuniões de planejamento das escolas. O índice é produzido para cada unidade e serve de parâmetro para o cálculo do pagamento do bônus que os servidores da educação recebem por ano.

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Avaliação. Para Ocimar Alavarse, professor da Universidade de São Paulo (USP), apesar da melhora nos desempenhos, a evolução da qualidade do ensino está praticamente estagnada nos últimos anos, sobretudo nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio. “O 3.º ano, por exemplo, teve uma melhora expressiva em Matemática, mas em Português já teve um desempenho superior em 2012, que nunca foi recuperado”, disse.

Para Alejandra Velasco, do Movimento Todos Pela Educação, a melhora também é um reflexo da extensão, em 2011, do ensino fundamental para 9 anos - que antecipou a idade de entrada na escola dos alunos de 7 para 6 anos. Ou seja, todos os alunos que terminaram o primeiro ciclo do fundamental no ano passado já tiveram 5 anos de escolaridade, e não 4.

Para calcular o Idesp, a secretaria une o resultado das provas do Saresp - com testes de português e matemática -, a taxas de aprovação, reprovação e abandono Foto: Cris Castello Branco/Governo de São Paulo/Divulgação

Ocupações e boicote não afetam notas

Apesar do boicote de alunos e de 176 colégios não terem feito o Saresp em 2015 em razão das ocupações contra a reorganização escolar, o governo do Estado de São Paulo disse que os protestos não prejudicaram a realização do exame e a aferição do desempenho da educação na rede de ensino.

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As provas foram realizadas nos dias 24 e 25 de novembro, período em 196 colégios foram ocupados por estudantes contra a reorganização da rede, que pretendia transformar as escolas em ciclo único. Segundo a secretaria, deixaram de fazer a prova 54 mil alunos - 4,7% do total previsto para realizar a prova -, o que não influenciou no resultado. 

Alguns alunos de unidades que não estavam ocupadas também boicotaram a prova, rasurando-a ou entregando em branco. De acordo com a secretaria, foi considerado boicote as provas em que o aluno acertou menos de 3 das 24 questões. No entanto, disse que as notas desses alunos também foram incluídas nos resultados finais. 

De acordo com José Renato Nalini, secretário de Educação, o desempenho foi muito satisfatório, apesar dos problemas enfrentados no ano passado. “Os alunos muitas vezes até se queixaram que não podiam entrar na escola, porque colegas e não colegas (pessoas que participaram das ocupações, mas não eram alunos da rede) perturbaram o ensino. Mesmo assim, os resultados do Saresp são favoráveis e é isso o que nos anima a procurar melhores caminhos.”

Além dos protestos, no ano passado, os professores fizeram a maior greve da história e ficaram 90 dias paralisados. 

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