Enem x Fuvest: saiba as diferenças para fazer uma boa prova

Exame da USP exige cálculos mais complexos; em Humanas, testes se aproximam na tendência de contextualizar perguntas

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Por Julia Marques
5 min de leitura
Meta. Aluno quer garantir uma boa nota Foto: SERGIO CASTRO/ESTADÃO

Poucos dias depois da maratona do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), os candidatos a uma vaga na Universidade de São Paulo (USP) precisam “reprogramar” os estudos para um novo desafio: a Fuvest. Conteudista, o vestibular mais tradicional do País exige dos alunos habilidades diferentes, como cálculos mais complexos do que a maioria dos outros processos seletivos.

Para professores de cursos e colégios de São Paulo, compreender o modelo da prova é o ponto de partida para ir bem na primeira fase. “A Fuvest vai cobrar o que o aluno estudou no ensino médio mesmo. Não é uma interpretação de texto, é o que ele sabe. Exige formação escolar”, diz Vera Lúcia Antunes, coordenadora pedagógica do Curso e Colégio Objetivo.

Na primeira etapa, os candidatos terão cinco horas (30 minutos a mais em relação ao primeiro dia de Enem) para resolver 90 questões de múltipla escolha, cada uma com cinco alternativas. São cobradas oito disciplinas: Português, Matemática, Física, Química, História, Geografia, Biologia e Inglês, além de perguntas interdisciplinares, que mesclam temas das diferentes áreas.

“A Fuvest tende a cobrar um conteúdo mais abrangente, mesmo com menos questões. Na prova de Matemática, o Enem pede quase a metade do conteúdo da Fuvest”, exemplifica Edmilson Motta, coordenador-geral do Colégio Etapa. A prova da USP é recheada de cálculos e o candidato que não dominá-los dificilmente conseguirá resolver uma questão só pela interpretação, como pode ocorrer no Enem.

Vilã dos candidatos da Fuvest, a Matemática é a disciplina na qual os alunos mais erram na primeira fase. Segundo um levantamento do Curso Poliedro, entre os estudantes que tentaram Medicina no ano passado, o índice de acerto na matéria foi de apenas 29,5%. Em Direito, a taxa cai para 23,5%. “O aluno já tem de ir preparado para uma prova mais exigente. A Fuvest pega pesado nas Exatas”, diz o coordenador da turma de Medicina do Poliedro, Rodrigo Fulgêncio. 

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Já nas questões de Humanas, os professores acreditam que a Fuvest está ficando, ao longo dos anos, mais parecida com o Enem em relação à tendência de contextualizar bem os enunciados. A habilidade de leitura em vários formatos - como obras de arte, quadrinhos e gráficos -, bem exigida no Enem, também é importante para tentar uma vaga na USP.

Além disso, os candidatos da Fuvest têm um dever de casa a mais: ler os nove livros divulgados no edital do concurso. Segundo os professores, perguntas sobre o enredo são certas, na primeira ou na segunda fase. A paisagem descrita na obra também pode servir, por exemplo, para embasar questões de História e Geografia.

Estratégias. Apesar das diferenças entre as provas, os estudantes que se dedicaram ao longo do ano não precisam se desesperar. “A Fuvest acaba sendo um dos últimos entre os principais vestibulares, mas o que o aluno estudou serve de base para todos. O que muda é o formato da prova”, diz Alessandra Venturi, coordenadora de orientação educacional do Cursinho da Poli.

Segundo ela, é recomendável agora que o estudante se familiarize com o formato do exame que vai fazer e com o tempo permitido para resolver os testes. “É importante que o vestibulando pegue as questões e treine os exercícios. Não queira agora estudar todo o conteúdo. É impossível e desumano.”

O cálculo da nota na primeira fase da Fuvest não segue a teoria de resposta ao item (TRI), adotada pelo Enem para identificar “chutes”. No vestibular da USP, o que importa é o total de acertos, sendo a questão fácil ou difícil. Os professores aconselham pular as complicadas e marcá-las para tentar resolver no fim. Também indicam separar três minutos para cada pergunta e deixar o gabarito para o término da prova.

O controle do horário durante a prova é um complicador, já que o uso de relógios pelos candidatos não é permitido desde o ano passado. Mas, segundo Paulo Sérgio Cugnasca, diretor-executivo da Fuvest, o fiscal da prova fará alertas periódicos sobre o tempo restante do exame, com intervalos menores de avisos na última hora.

Ele recomenda que ainda na véspera do exame o estudante visite o local de prova e, no dia, esteja presente antes da abertura dos portões. “Sempre pode haver algum imprevisto. Ele tem de ficar atento também se está acontecendo algum evento nas imediações, para tomar as precauções e não se atrasar.”

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Segunda fase. Além de cobrar as matérias do ensino médio, o vestibular da USP pede uma boa dose de controle da ansiedade. Antes de saber se foi aprovado na primeira fase, o candidato já deve ficar de olho na segunda, quando terá de elaborar um texto e resolver uma nova bateria de exames - desta vez, questões abertas.

A nota de corte da primeira etapa varia em cada curso e ano após ano. “Em Medicina, vem maior que 70, mas existem variações que dependem do nível de dificuldade da prova. A gente fala para os alunos não se preocuparem muito com isso porque a diferença pode ser grande de um ano para o outro”, diz o professor Rodrigo Fulgêncio, do Curso Poliedro.

O estudante tem até os primeiros dias de janeiro para se debruçar na resolução de questões discursivas. Também precisa dar atenção à Redação, cuja nota é decisiva para o resultado final. O texto pedido aos candidatos da USP tem uma série de diferenças em relação à Redação do Enem. “A Fuvest aborda temas mais abstratos, não necessariamente sociais ou coletivos”, explica o professor Tiago Moreira Gomes, professor de Redação do ensino médio no Colégio Vital Brazil. No ano passado, por exemplo, os alunos desenvolveram um texto sobre violência doméstica no Enem e, na USP, precisaram discorrer sobre utopia.

Enquanto o Enem cobra uma proposta de intervenção (uma solução para o problema), na Fuvest isso não é pedido. O aluno precisa de um bom repertório sociocultural e de relacionar informações como conhecimentos de História, Geografia, Sociologia, Filosofia e temas atuais da sociedade brasileira. “É preciso que o aluno vá além do que está exposto nos textos motivadores.”

Segundo Gomes, os alunos têm dificuldade para entender a diferença entre as provas. “Precisamos desenvolver uma habilidade textual diferente, como se reprogramássemos a forma de elaborar o texto.”

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