Em um dia, MEC nomeia e exonera apoiador do 'Escola Sem Partido'

Ministério da Educação não confirma relação com posicionamento de economista e diz que concluiu que sua colaboração 'não seria necessária'

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Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:

SÃO PAULO - Em um dia o Ministério da Educação (MEC) nomeou e, horas depois, decidiu exonerar o doutor em Economia e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Adolfo Sachsida. Eleexerceria o cargo de assessor especial do ministro Mendonça Filho, de diálogo direto com o chefe da pasta, mas sua nomeação, que saiu no Diário Oficial da União de segunda-feira, 11, acabou sendo cancelada nesta terça-feira, 12. O caso foi informado pelo jornal Valor Econômico.

Sachsida é apoiador do projeto "Escola Sem Partido", movimento que diz defender a "neutralidade do ensino" por meio da proibição de "doutrinação ideológica" nas escolas, ideia que o próprio ministro já disse ser contra.Em uma das publicações de seu blog, o economista, que se diz conservador, divulga um vídeo em que entrevista o procurador paulista Miguel Nagib, idealizador do texto original do projeto em 2004. Em sua página no Facebook, ele diz ser "pró vida, propriedade privada, conservadorismo moral e liberdade econômica". 

Em vídeo, economista entrevista autor do texto original do projeto que quer vetar "ideologia" nas escolas Foto: Divulgação|Youtube

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Em nota, o Ministério da Educação não confirma a relação do recuo com o apoio do economista ao "Escola Sem Partido". "O MEC e o economista concluíram não ser necessária tal colaboração." De acordo com a pasta, a nomeação de Sachsida tinha como objetivo analisar o impacto da macroeconomia no financiamento de políticas públicas da educação, função agora delegada à Subsecretaria de Orçamento e Planejamento.

A pasta disse ainda que o ministro "não discute a educação sob o ponto de vista político ideológico" e defende que a bandeira da educação deve ser "estritamente técnica, acima de qualquer disputa política, ideológica ou partidária". 

Nas redes sociais, no entanto, apoiadores do economista dizem que o motivo para o recuo do MEC é sua convicção ideológica. "Estamos vivendo um momento em que está havendo um patrulhamento enorme e qualquer pessoa que seja reconhecida como de direita não pode assumir cargos no governo porque a petralhada inferniza. Não basta tirar a Dilma, tem que desratizar o Ministério da Educação, da Cultura", diz a advogada Beatriz Kicis em vídeo no Facebook. A publicação já teve mais de 450 compartilhamentos e 5 mil visualizações.

Em seu currículo, consta que Sachsida possui doutorado em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e pós-doutorado pela Universidade do Alabama. Sua área de pesquisa é a de "uso de modelos econométricos para a resolução de questões econômicas".

Blog. Integrante do Foro de Brasília, que defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), Sachsida obteve da Justiça, na semana passada, autorização para que oBanco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgue documentos sobre o financiamento do porto de Mariel, em Cuba. A decisão foi comemorada em seu blog.

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"O interesse nacional não pode se sobrepor aos de países alinhados ideologicamente com quaisquer governos, especialmente quando os mesmos recursos públicos não são aplicados em obras estratégicas para o desenvolvimento e crescimento nacional", escreveu o economista.

Em outra postagem, Sachsida diz ser "estranha" a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de tornar réu o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) por prática de apologia ao crime de estupro e por injúria. O deputado afirmou à deputada Maria do Rosário (PT-RS) que não a estupraria porque ela "não merece". "Pode-se achar a frase acima de mau gosto, pode-se achá-la inconveniente, mas daí a dizer que a mesma se configura em apologia ao crime é de um absurdo incrível. Onde está a apologia ao crime?", afirmou Sachsida.

Procurado pelo Estado, o economista não quis se manifestar.