Em ruínas, FAU recebe R$ 6 milhões para reforma

Promessa foi feita pelo novo diretor da Faculdade de Arquitetura da USP, empossado na quinta-feira; hoje, alunos têm de conviver com goteiras e improviso para garantir sua permanência dentro do prédio, que é tombado

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Por Mônica Pestana
Atualização:

Rachaduras, pedaços de concreto que despencam do teto, um estúdio interditado e caixas d’água usadas para conter goteiras  provocadas pelas chuvas dos últimos dias acabaram se tornando parte do prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP),  na zona oeste de São Paulo. Mas esses problemas podem estar com os dias contados. Empossado na quinta-feira, o novo diretor da faculdade, Marcelo Andrade  Romero, disse que a reforma já tem garantidos R$ 6 milhões e a licitação deve sair em janeiro.

 

Símbolo da arquitetura, o prédio da FAU é considerado uma obra-prima do arquiteto Vilanova Artigas e do engenheiro Carlos Casaldi. Mas há mais de 40 anos vive a contradição de ensinar a construção e a preservação para os futuros profissionais do País em um prédio que hoje está em ruínas.

 

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- Prédio traduz aspirações por mudança da época

 

Quem entra no prédio da FAU se depara com um imenso pano azul. Serve para evitar que pedaços de concreto despenquem do teto. “Está assim desde que eu entrei na faculdade”, diz o estudante Ricardo Aguilar, de 30 anos, que se formou este ano na FAU. Segundo ele, já houve obra no jardim e nas salas dos professores, mas não nas estruturas. “Fica difícil saber qual é a prioridade.”

 

Até o momento, foram recuperadas as vigas da laje superior, reformas em departamentos e nas salas dos professores. “Em seis meses, os banheiros estarão prontos. O problema no teto é o mais visível, mas a cobertura não apresenta perigo”, explica o arquiteto Augusto Francisco Paulo, do Grupo Executivo de Gestão dos Espaços Físicos da faculdade. “Estamos no meio de um processo irreversível e a reforma acontecerá.”

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A gestão do professor e arquiteto Sylvio Sawaya, que acabou este ano, enfrentou oposições por iniciar as obras sem ter as devidas autorizações e, segundo os alunos, ameaçar a integridade do projeto inicial. “Há 20 anos, o prédio está em situação delicada. Atualmente, o estado é crítico. Ele estava se dissolvendo e começamos a trabalhar nisso.” O prédio, de 1969, foi tombado em 1982.

 

O professor Milton Braga, membro do Conselho de Curadores da FAU, avalia que a questão é mais complexa. “O País perdeu a cultura do projeto e do planejamento. O prédio ficou 42 anos sem manutenção consistente.” Para o professor, a verba de R$ 6 milhões não será suficiente. “O prédio é muito importante para cultura brasileira. É o mais visitado e o mais reconhecido. Muitos estrangeiros vêm para visitá-lo.”

 

Professor engajado e militante de esquerda, Artigas desenvolveu uma linguagem arquitetônica inovadora na estrutura e na técnica construtiva da década de 1960. Para o professor e arquiteto Nabil Bonduki, a faculdade acabou crescendo sem que a adaptação do prédio fosse pensada. “Ele foi pensado para uma época em que os requisitos eram adaptados às pranchetas e às réguas. Hoje, todo mundo usa computador.”

 

Faculdade é uma das mais importantes do País

 

A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP forma alguns dos principais profissionais da área. É considerada também uma das mais importantes do Brasil. A degradação do seu prédio, colocando em risco alunos e professores e os obrigando a improvisar espaços mais adequados, pode representar o descaso com a formação e o preparo de arquitetos e urbanistas.

 

5.400 é o número de pessoas que se formaram desde a criação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP)

 

137 é o número de docentes que trabalham na FAU atualmente. A faculdade conta, no total, com 194 funcionários e atende 2.100 alunos da graduação e da pós-graduação

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100 é o número de estudantes que vieram de outros países para estudar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, no Butantã

 

1969 é o ano de inauguração do prédio projetado por Vilanova Artigas dentro do câmpus da Cidade Universitária da USP, no Butantã, na zona oeste da capital

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