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Em Paraisópolis, falta de opção motiva os improvisos

Cláudia Di Savério começou cuidando do filho de uma vizinha e chegou a lidar com 25 crianças; hoje, acolhe 9

Por Isabela Palhares
Atualização:
Região é a de maior demanda por vaga pública Foto: Rafael Arbex/Estadão

SÃO PAULO - Há três anos, Cláudia Di Silvério, de 45 anos, começou a cuidar do filho de uma vizinha que precisava trabalhar e não conseguia vaga em creche para o menino. Em pouco tempo, outras famílias com o mesmo problema passaram a deixar as crianças com ela. Assim, informalmente, surgiu a Creche da Tia Claúdia, em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo.

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Cláudia cuida hoje de nove crianças - já chegou a ter 25 quando morava em uma casa maior. Ela cobra cerca de R$ 150 por mês ou R$ 20 para apenas um dia. Duas meninas, de 12 e 17 anos, recebem R$ 400 por mês para ajudá-la nos cuidados. 

Algumas crianças, que têm entre 8 meses e sete anos, chegam na creche às 7h e outras só vão embora à meia noite, quando os pais chegam do trabalho. Ela também fica com as crianças aos sábado. “Aqui a gente dá banho, comida, faz dormir, brinca. Vou até atrás de vaga na creche para as mães porque sei que seria melhor para as crianças. Eu cuido como se fossem meus filhos, mas as professoras têm formação e sabem como estimular o aprendizado delas.” 

Dos dez distritos da capital com maior demanda por creche, sete ficam na zona sul - em março eram mais de 29,4 mil crianças na espera por vaga. Segundo a Defensoria Pública do Estado, é também a região com o maior número de ações judiciais para conseguir vaga, foram 4.548 nos primeiros cinco meses deste ano - das 7.097 em toda a cidade.

O defensor Alvimar de Almeida explica que todas as ações são exitosas e as famílias garantem a vaga entre 1 a 3 meses. No entanto, elas passam na frente de outras crianças. “É preciso que a Prefeitura tenha um plano bem definido para garantir o direito de todas essas famílias.”

A manicure Karina Tenorio, de 21 anos, está há 20 meses esperando vaga para o seu filho de 1 ano e 11 meses. O menino está na posição 135º na fila por creche, mas já chegou a estar em 88º. “Não explicam pra gente porque isso acontece. Eu não consigo trabalhar, preciso do dinheiro. É agonizante.”

A Secretaria Municipal de Educação diz que crianças em situação de vulnerabilidade ou que obtiveram a vaga por ação judicial podem ter passado na frente do filho de Karina.

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Alexandre Schneider, secretário de Educação do município, admite que a zona sul é a região com o maior déficit de vagas na creche. A Prefeitura tem a promessa de abrir 65 mil nessa etapa até março do ano que vem, com a promessa de priorizar as regiões com maior demanda. No entanto, a pasta não detalhou a previsão e a quantidade de vagas a serem abertas nessa região no próximo ano. 

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