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Economistas ganham espaço em outras áreas

Educação, Meio Ambiente e Marketing também são opções de carreira para esses profissionais

Por Victor Vieira e Tatiana Cavalcanti
Atualização:
Geluda uniu interesses nas áreas de economia e meio ambiente Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

SÃO PAULO - Sempre requisitados por bancos e departamentos financeiros de empresas, economistas vêm ganhando cada vez mais espaço em outros campos. As habilidades de fazer projeções estatísticas, executar análises complexas de cenários e equilibrar a relação entre custo e benefício credenciam esses profissionais para atuar em carreiras diversas. De olho no aumento das possibilidades de trabalho, as escolas de negócios investem em formações mais amplas e flexíveis, além de pós especializadas, para atender às novas demandas.

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Educação, Meio Ambiente, Saúde, Urbanismo, Recursos Humanos e Marketing são exemplos de setores que recrutam economistas. Acostumados a lidar com metas de rendimentos, esses profissionais também ajudam a garantir a viabilidade financeira de atividades não lucrativas, com interesse social. É o caso de Leonardo Geluda, de 37 anos. Ele trabalha no Funbio (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade), uma associação do terceiro setor, que atua em parceria com empresas e governos para financiar políticas de conservação da biodiversidade.

"Antes de entrar no curso de Economia, eu havia tentado vestibular para Ciências Ambientais. Sempre tive interesse pela natureza", diz Geluda, formado há 11 anos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "No começo, não sabia muito bem para que lado iria minha carreira. Mas, no terceiro ano do curso, encontrei a ponte entre os temas ao fazer disciplinas eletivas de Meio Ambiente e Economia."

A formação na UFRJ, para Geluda, lhe deu mais condições de transitar entre questões sociais e de mercado do que outras escolas de negócios. "Apesar disso, a maioria dos meus colegas seguiu áreas mais tradicionais. O número de profissionais que atuam na interdisciplinaridade entre Economia e Meio Ambiente cresceu, mas ainda é tímido."

Segundo ele, uma de suas tarefas é traduzir o "economês" para ambientalistas e os desafios do desenvolvimento sustentável para setores do mercado. "Às vezes, é necessário quantificar os benefícios da conservação." Outra mudança nos últimos anos, diz Geluda, é a aceitação dos economistas pelos profissionais de outras áreas. "Antes, havia uma ideia de que nós queríamos privatizar ou comercializar a natureza. Era uma visão da Economia como inimiga da conservação", relata. "Isso vem mudando."

A percepção de que a formação mista de finanças e desenvolvimento sustentável é uma lacuna no mercado levou a Fundação Getulio Vargas (FGV) a criar o mestrado profissional em Economia, com ênfase em Desenvolvimento Sustentável. As aulas do curso começam em janeiro de 2016.

Créditos de carbono, legislação florestal e financiamento de programas socioambientais são possibilidades de estudo para os futuros alunos dessa pós. "Vamos discutir esses assuntos, levando em conta a realidade econômica, tanto a macro quanto a micro", descreve Annelise Vendramini, professora do novo mestrado. De acordo com a especialista, as graduações têm dificuldades de levar a agenda ambiental à sala de aula.

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"Geralmente, esse debate só é feito na pós. O Meio Ambiente é considerado externalidade, que não transita pelo sistema de preços do mercado, o que dificulta a discussão", afirma. "Mas há uma tendência de que isso também chegue às graduações no futuro."

Em campo. Já o economista Pedro Ivo Campos, de 25 anos, trocou os bancos pelos estádios e usou seus conhecimentos para aumentar a receita de um dos times mais populares do País, o Corinthians. No setor de Marketing do clube, onde trabalhou por três anos, o jovem ajudou a reformular o modelo do preço de ingressos nos jogos do Pacaembu, estádio antes usado pelo Timão, na zona oeste da capital.

"Analisamos a variação cobrada dos torcedores nos 20 anos anteriores. Percebemos que havia setores com preços desproporcionais. Estudamos a variável de público nos jogos e recalculamos os valores das entradas para ter um equilíbrio", diz Campos, que trabalhou para o time entre 2010 e 2013.

"Com isso, alteramos os valores e mantivemos os corintianos no estádio." Segundo ele, as mudanças fizeram a arrecadação média nos jogos crescer entre 30% e 40%. E, para expandir a rede de lojas do Corinthians, Campos analisou o perfil socioeconômico do consumidor, como faixa etária e gênero. Com os dados nas mãos, ajudou a definir o lugar de novas unidades. "Elaboramos gráficos e planejamos qual seria a distância entre cada loja para não acabar causando conflitos."

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De acordo com Campos, ex-aluno do Insper, os conceitos práticos e teóricos que aprendeu ao longo da graduação contribuíram no trabalho. "Na faculdade, aprendi a ter um pensamento mais questionador e racional", diz ele, que hoje trabalha em uma butique de investimentos.

Nos últimos anos, as classes têm se adaptado às demandas do mercado. "Estimulamos o aluno a exercitar o conteúdo na resolução de problemas reais e multidisciplinares", conta a diretora acadêmica de graduação do Insper, Carolina da Costa. Outro foco é trabalhar bem a análise de dados, chamada de Big Data. "É preciso ter uma cabeça preparada para formular e testar hipóteses sobre esses dados e entender causalidades."

Segundo ela, cresceu a aplicação de métodos econômicos nos estudos comportamentais. "Para entender o consumidor, com impacto no Marketing; comportamentos psicossociais, na Educação; e também no ambiente de trabalho, como a motivação de funcionários e tomada de decisões de investidores." Para Carolina, a vivência em atividades extracurriculares ao longo do curso aguça a sensibilidade prática dos alunos.

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Além das cifras. O economista Fernando Carnaúba, de 29 anos, não usa a Matemática para calcular cifras, mas o desempenho de alunos e professores do ensino básico em sala de aula. Ele atua na rotina de 25 escolas particulares da rede da Abril Educação, como integrante da área de formação de professores. "Meu papel é montar o programa", explica. "Minha base de economista entra porque, com a formação, acompanhamos os dados para entender se o programa funciona."

A afinidade com o universo escolar, conta Carnaúba, surgiu após fazer uma iniciação científica sobre a Economia da Educação, quando era aluno da Universidade de São Paulo (USP). Isso fez com que, mais tarde, ele ficasse um semestre como pesquisador visitante na Faculdade de Educação da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.

Promover o debate aberto foi a receita para não sofrer resistência dos educadores. "No início, tinha medo dessa possibilidade", admite. "Mas não enfrentei esse problema porque tenho respeito enorme pelo conhecimento específico desse campo." Um dos expoentes da interação entre as duas ciências é o pesquisador americano James Heckman, ganhador do Nobel de Economia, que há anos estuda o impacto de investimentos na educação infantil.

Carnaúba também percebeu aumento de interesse pelos caminhos alternativos dentro da nova geração de economistas. "Do início para o fim da faculdade, já notei a diferença. Muitos dos meus colegas foram atuar em startups de tecnologia."

Pluralidade. Helvídio Prisco, professor da Trevisan Escola de Negócios e da Fundação Dom Cabral, conta que há dois tipos de ensino para economistas: o ortodoxo, mais tradicionalista, e o plural, que costuma tratar das novas possibilidades de atuação. "As escolas plurais têm formado profissionais com visão mais ampla e mais capacitados a enfrentar as mudanças constantes a que estamos sujeitos no mercado de trabalho."

Por meio de sugestões de leitura e de intercâmbio com economistas de outros países, o professor tenta estimular o estudo para além da sala de aula. "A Matemática é fundamental, claro, mas é preciso também dessa interação e troca de experiências com profissionais de visões diferenciadas."

O professor acredita que ele mesmo seja um exemplo de aluno plural. "Meu primeiro emprego como economista foi em um jornal, onde analisava os espaços nas páginas do veículo para calcular preços de anúncios. Também interpretava pacotes econômicos, que mudavam constantemente naqueles anos."

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Outro dos entraves para a exploração de novas áreas, de acordo com especialistas, é a falta de informação sobre o leque de carreiras. Feiras e plataformas online de troca de experiências entre alunos e jovens profissionais da área são saídas para descobrir novas possibilidades da profissão.

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