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Descoberta do esqueleto de Ricardo III surpreende pesquisadores

'O simples fato de terem achado exatamente aquilo que buscavam foi, por si só, surpreendente', diz professora da USP

Por Cristiane Nascimento
Atualização:

Cientistas e arqueólogos britânicos anunciaram nesta segunda-feira, 4, a confirmação da descoberta dos restos mortais do rei da Inglaterra Ricardo III. O esqueleto havia sido encontrado em setembro, durante uma escavação arqueólogica sob um estacionamento em Leicester, cidade a 160 quilômetros ao norte de Londres. A revelação foi recebida com bastante entusiasmo por pesquisadores da área. "O simples fato de terem achado exatamente aquilo que buscavam foi, por si só, surpreendente", diz Verônica Wesolowski, professora do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Segundo a pesquisadora, é bastante incomum e difícil o encontro de "achados" pré-estabelecidos.

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Na sua opinião, apenas um trabalho arqueológico bem organizado e multidisciplinar possibilitou a descoberta. A pesquisa partiu primeiro de um levantamento de documentos históricos que guiaram os arqueólogos até o local onde estaria a igreja em que o rei fora enterrado após ter sido assassinado  na batalha de Bosworth Field, em 1485. A construção foi destruída décadas depois e a sua localização exata perdeu-se com o tempo. 

Encontrada a ossada, uma análise precisa do esqueleto possibilitou a identificação de sua idade, de marcas de ferimentos de guerra e até mesmo de uma escoliose já relatada em registros históricos. Por fim, um DNA comprovou um grau de parentesco com um parente vivo distante da irmã do rei.

"São provas circunstanciais, mas que em conjunto, permitem a inferência de que o esqueleto é mesmo de Ricardo III", diz Verônica. Apesar da relevância histórica da descoberta, a professora ressalta que, do ponto de vista arqueológico, pouco importa a condição social do objeto analisado. "Todo achado é um achado. O esqueleto poderia não ser o rei e, ainda assim, responderia a uma série de perguntas", afirma.

Marcos Alburqueque, professor do doutorado de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), concorda com a afirmação. "Para nós, um esqueleto de um escravo valeria tanto quanto o esqueleto de um rei. O que muda de um caso para o outro é a relevância histórica que cada um deles concede à história local", diz. Segundo o professor, a revelação é importante na medida em que credita muitas das "lendas" que circulavam em torno de Ricardo III.

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