Debate: Nova divisão de disciplinas no ensino médio melhora formação de alunos?

Medida Provisória define que apenas as disciplinas de Português, Matemática e Inglês serão obrigatórias durante os três anos que compõem a etapa

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Por Redação
Atualização:
Apenas as disciplinas de Português, Matemática e Inglês serão obrigatórias durante os três anos que compõem o ensino médio Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Na nova arquitetura do ensino médio, estabelecida nesta quinta-feira. 22, por Medida Provisória (MP) editada pelo presidente Michel Temer, apenas as disciplinas de Português, Matemática e Inglês serão obrigatórias durante os três anos que compõem a etapa. As demais passam a ser optativas da metade para o fim, a depender da área de conhecimento que o aluno decidir seguir, entre cinco possibilidades: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Ensino Técnico.

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Veja a seguir a posição de especialistas para a questão: A nova divisão de disciplinas no ensino médio melhora formação de alunos?

SIM. 

Não dá para ter 13 disciplinas e a atual carga horária. O ensino médio está estagnado e em um patamar muito baixo desde 2009, tanto em Língua Portuguesa quanto em Matemática, e é preciso agir com urgência. Se você comparar com outros países que estão no topo da educação mundial, como Austrália, Inglaterra, França, Portugal e Finlândia, não encontra modelo igual ao do Brasil, que é uma verdadeira jabuticaba do ponto de vista do ensino médio. A meu ver, é um modelo que já há muito tempo era para ter sido revogado. 

Não há risco de se diluir o conteúdo dos três anos em um ano e meio. Na verdade, será definido o que os alunos realmente precisam aprender. Em Química, por exemplo, todo mundo deve saber o que é PH, para falar de chuvas ácidas. Mas não é necessário estudar pressão osmótica, que é algo muito específico e pode ser aprofundado só por quem tem interesse em fazer Química, Engenharia, etc. O conteúdo será reorganizado de acordo com os interesses do aluno.

Já a desigualdade nas redes vai depender muito da qualidade de oferta. Hoje a maioria dos jovens no ensino noturno, por exemplo, já está no mundo do trabalho. Talvez, para eles, faça mais sentido buscar o aperfeiçoamento técnico, até porque só 20% dos jovens que terminam o ensino médio buscam a universidade. A proposta dialoga mais com os interesses desse jovem. 

MOZART NEVES RAMOS É DIRETOR DE ARTICULAÇÃO DO INSTITUTO AYRTON SENNA

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NÃO. 

Achamos que a flexibilização é positiva, em tese. Mas, tal como está formulada na Medida Provisória, pode aumentar a desigualdade que já existe no País. Os exemplos que o ministro utilizou na apresentação são de países desenvolvidos, que muito cedo já destinam os alunos para diferentes carreiras, mas que não têm grandes desigualdades sociais. A diferença entre ser um técnico ou engenheiro não vai render grandes diferenças salariais ou de prestígio. Um primeiro ponto é que os alunos, principalmente mais desfavorecidos, fazem escolhas de acordo com a condição social. Não fazem escolhas no vazio. Fazem a partir de um conjunto de possibilidades que são dadas pela sua condição social. Examinam o que acontece com as pessoas que são próximas e aí projetam o que é para eles e o que não é. 

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A MP pensa esses condicionamentos sociais como se fossem escolhas das pessoas. Não são os jovens que escolhem não entrar na universidade. É porque eles não têm condições. Seria preciso, antes, qualificar a escolha desses jovens e isso se faz com conhecimento, com elaboração junto da escola de um projeto de futuro, além de articulação com os anos finais do ensino fundamental, e nada disso está na MP. Eu diria que é uma ação conformista, como se fosse natural uns serem trabalhadores e outros irem para a universidade. 

ANTÔNIO AUGUSTO GOMES BATISTA É COORDENADOR DE DESENVOLVIMENTO E PESQUISAS DO CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISA EM EDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA (CENPEC)