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Curso de gerontologia prepara gestores do bom envelhecimento

Nova formação universitária acompanha aumento da expectativa de vida no País e visa aspecto social, biológico e psicológico do idoso 

Por Juliane Freitas
Atualização:

A população brasileira está envelhecendo. A redução das taxas de natalidade e o aumento da expectativa de vida já mudaram a cara do País e, pouco a pouco, as necessidades dos novos grupos que se reforçam. Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida ao nascer no Brasil deve chegar aos 80 anos em 2041 - mas no Estado de Santa Catarina, por exemplo, ela deve ser alcançada já em 2020. Espera-se que haja mais ou menos 530 mil idosos acima dos 90 anos em 2015 e 967 mil em dez anos. 

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Observando essa tendência, já notada nos países desenvolvidos, como Inglaterra, Estados Unidos e até China, a Universidade de São Paulo (USP) criou o primeiro curso de bacharelado em Gerontologia do Brasil. A especialidade, antes, era aplicada no ensino superior em forma de pós-graduação stricto e lato senso. Agora, o curso do câmpus Leste na instituição abre 60 vagas por ano e já formou cerca de 270 profissionais desde sua primeira turma, em 2005. Em todo o País, estima-se que existam 440 gerontólogos graduados até 2014, segundo levantamento da Associação Brasileira de Gerontologia.

"Outros países enfrentam e enfrentaram problemas diante da falta de serviços para comportar a demanda do envelhecimento. O Brasil está envelhecendo de forma acelerada e hoje já temos 22 milhões de idosos. É preciso saber gerenciar esse processo", conta a coordenadora de Gerontologia da USP, Rosa Yuka Sato Chubaci.

O aumento da expectativa de vida motivou o investimento em graduação voltada para os idosos. Na imagem, as gêmeas chinesas Cao Xiaoqiao e Cao Daqiao, aos 104 anos, em 2009. Foto: Reuters

De formação ampla, o profissional gerontólogo em quase nada se parece com o geriatra, um médico especializado nos cuidados com a terceira idade. Durante a universidade, o estudante aprende conceitos de biologia, psicologia, saúde e, especialmente, de gestão do envelhecimento. 

"O geriatra é um médico que vai diagnosticar uma doença e indicar um tratamento. O gerontólogo vai ser o gestor desse idoso, ou mesmo dessa clínica médica. Ele vai ajudar o idoso a passar por esse processo e mostrar o que ele deve fazer para ter uma velhice com mais qualidade, olhando pela parte clínica, nutricional e psicológica", explica a professora.

Para preparar o profissional para lidar tão bem com o idoso e suas necessidades, o aluno que escolher estudar gerontologia terá durante a universidade desde disciplinas introdutórias sobre a velhice até temas mais específicos, como antropologia do envelhecimento, gestão de pessoas, alterações psicológicas e patológicas, cuidados médicos e atividades físicas para os idosos, além de estágios para colocar os conhecimentos em prática. Outro objeto importante de estudo é a criação de uma consciência e transmissão de educação sobre o processo de envelhecimento. 

"O gerontólogo estará preparado para atuar em três campos de gestão do envelhecimento. O micro, orientando o próprio idoso e seus familiares sobre este período da vida e suas implicações - as pessoas só percebem as dificuldades quando têm um idoso dentro de casa; o médio, trabalhando na qualificação de serviços para a terceira idade, como em eventos ou mesmo asilos; e o macro, elaborando projetos de lei ou políticas públicas para essa esfera da população", conta Chubaci. 

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O profissional já é procurado hoje, segundo a coordenadora, por empresas que lidam com idosos, como convênios médicos e prestadores de serviços de interesse social, como transporte e segurança pública. "Os gerontólogos olham com muito carinho para o idoso e são muito capacitados para recebê-los, entendê-los e ajudá-los a ter uma velhice controlada, bem orientada. Eles têm uma visão ampla de um serviço, olhando também pela sua família, para o contexto onde está inserido e sua relação com o ambiente".

MERCADO DE TRABALHOA profissão de gerontólogo ainda não é regulamentada pelo Ministério do Trabalho, sendo reconhecida hoje como uma ocupação legal. Por isso, a Associação Brasileira de Gerontologia (ABG), criada em 2007, atua para proteger os direitos dos profissionais e discutir as práticas do trabalho. Cerca de 700 pessoas participam do grupo e a maior parte dos atuantes na área são mulheres. 

Decidido em assembleia, o salário-base para 30 horas de trabalho varia entre 3 e 6 salários mínimos (R$ 2.364 a R$ 4.728). Entre as possibilidades de atuação estão ONGs e instituições públicas que investem em atividades e cuidado para idosos, além das casas de repouso. As Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), planos de saúde e hospitais são os maiores empregadores. Também é possível trabalhar no campo de pesquisas sobre a velhice.

Eva, a terceira da coluna central, da direita para a esquerda, deixou as ciências exatas para se dedicar aos idosos. Na imagem, a equipe da Associação Brasileira de Gerontologia. Foto: Arquivo Pessoal

"O que mais a associação tem buscado é fazer uma ponte com as empresas que precisam de profissionais. Paralelo a isso, atuamos com o Ministério do Trabalho e já há um projeto de lei tramitando pela regulamentação do gerontólogo", explica Eva Bettine, vice-presidente da ABG e egressa da terceira turma de formandos em Gerontologia da USP.

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Graduada anteriormente em matemática e sistemas de informação, Eva se encantou pelo curso assim que ele entrou para a grade de cursos da Universidade de São Paulo e hoje trabalha, além de atuar na associação, como free lancer em projetos culturais voltados para a terceira idade. 

"Mesmo quando converso com pessoas mais velhas digo que é possível resignificar a vida, e essa minha escolha foi muito certa. Tudo que consigo fazer hoje é em função desta escolha que fiz", conta Eva, que acredita na qualidade da formação oferecida para quem quer ser gerontólogo e na ascensão da profissão. 

"A profissão veio preencher um buraco que existia. A gente só pensava na geriatria, que é medicina. A gerontologia vê a velhice em todos os seus ângulos. Nesse sentido, a gente tem uma visão mais ampla que um profissional específico. Esse cuidado sobre a velhice ainda está engatinhando no Brasil, mas se pensarmos que os governos estão pensando em cidades amigas do idoso e espaços para eles, o gerontólogo será cada vez mais requisitado."

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CURSOSA graduação em Gerontologia pela USP é gratuita e é preciso inscrever-se ao vestibular da Fuvest para concorrer às vagas dispostas no câmpus Leste. O curso também é oferecido pela Universidade Federal de São Carlos (UfsCar), pela Universidade Santa Cecília, de Santos, e pela FAI - Faculdades Adamantinenses Integradas, no interior de São Paulo.

USP Leste 

São Paulo, SP

60 vagas por ano

Vestibular no fim do ano

Gratuito

Universidade Federal de São Carlos (Ufscar)

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São Carlos, São Paulo

40 vagas por ano

Vestibular no fim do ano

Gratuito

Faculdades Adamantinenses Integradas 

Adamantina, São Paulo

Turmas diurnas e noturnas

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Mensalidades: R$ 508,00

Universidade Santa Cecília 

Santos, São Paulo

Curso de tecnólogo - Duração de 18 meses

De 20 a 40 vagas

Mensalidades: R$ 441,75

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