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Colégios particulares já oferecem até 78 matérias optativas no ensino médio

Com a reforma dessa etapa encaminhada, escolas de São Paulo ampliam o número e a diversidade das disciplinas eletivas; na maioria, a proposta é permitir que alunos montem percursos flexíveis e transitem entre vários campos do conhecimento

Por Isabela Palhares
Atualização:

Que tal ir para a escola e estudar física quântica, cosmologia, crítica teatral e biotecnologia? Em São Paulo, colégios particulares estão oferecendo até 78 disciplinas eletivas para os alunos do ensino médio só neste ano. Alguns programas têm mais de uma década, mas com a reforma aprovada pelo governo federal o formato vem mudando, ampliando a oferta ou aprofundando o conteúdo.

No Colégio Bandeirantes, a escolha de pelo menos uma disciplina eletiva é obrigatória a partir do 2º ano; na foto, aula de Microrganismos Aplicados àBiotecnologia, na qual os alunos simularam um tribunal para discutir vacinação Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

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A reforma do ensino médio prevê que o aluno tenha 40% da carga horária reservada a disciplinas optativas. Os alunos poderão escolher percursos formativos em uma área (Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza ou Ciências Humanas) ou formações técnicas.

No Colégio Bandeirantes, na zona sul da capital paulista, os alunos sempre tiveram a possibilidade de fazer atividades extracurriculares. Mas, neste ano, a escolha de pelo menos uma eletiva por semestre se tornou obrigatória a partir do 2.º ano. A cada seis meses, haverá escolha entre 20 opções, independentemente da área.

+++ Filosofia vira aula pop entre adolescentes

“Nossa preocupação era de que o aluno tivesse liberdade, que a primeira opção não o deixasse amarrado em uma área até o fim do ensino médio”, diz a diretora pedagógica, Mayra Lora. Apesar de a mudança ter começado em 2018, a ideia surgiu há alguns anos, quando o colégio decidiu não separar mais os alunos por áreas (até 2016, eles escolhiam entre as turmas de Exatas, Humanas ou Biológicas).

“Muitos optam por eletivas de áreas diferentes. Essa curiosidade faz parte da adolescência e é reforçada no mundo em que vivemos, onde recebem muita informação”, afirma.

No Band, todas as eletivas são interdisciplinares. A matéria de biotecnologia, com 5 turmas e 200 alunos, é um exemplo. “Como montamos um curso bastante interdisciplinar e com aulas práticas, atraímos tanto os que têm interesse pela área da Saúde, quanto os que querem Engenharia”, diz a professora Lucianne Aguiar.

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Em uma das aulas, a proposta era encontrar solução para um problema: uma escola queria vacinar os alunos, mas enfrentava a resistência de uma família. “Eles debateram, simularam estar em um lado e no outro, encontraram argumentos para defender a posição. No fim, muitos imaginaram como seria ser um advogado ou um médico.”

Liberdade

O amplo interesse dos adolescentes também fez o Colégio Dante Alighieri, na região central, mudar e ampliar o número de eletivas oferecidas. Neste ano, havia 78 opções disponíveis, como gastronomia italiana, física quântica, astronomia, mercado de ações.

“Mais da metade dos alunos escolheu disciplinas de áreas diferentes, poucos se restringem a apenas um campo. Desde o planejamento, nossa ideia era permitir que os alunos explorassem, experimentassem. Não queríamos criar itinerários formativos que prendessem o jovem em uma única área”, diz a coordenadora Sandra Tonidandel.

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No Dante, o aluno também escolhe as optativas a cada semestre. Cada uma delas é avaliada pelos estudantes para que o colégio identifique a necessidade de mudanças na grade, conteúdo ou metodologia. “É mais trabalhoso oferecer novas opções a cada semestre, mas nossa intenção é que eles vivenciem novas áreas, aprendizados. Para só depois decidirem o que fazer na faculdade”, diz Sandra.

A chance de diferentes vivências, antes de escolher a carreira, também foi o que motivou o Colégio Santa Maria, na zona sul, a ampliar o número de eletivas. Elas passaram de 4 para 13 – vão de geopolítica e relações internacionais a linguagem teatral ou condicionamento físico.

No 3.º ano do médio do Santa Maria, Paula King, de 16 anos, já fez eletivas de redação, xadrez, italiano e geopolítica. “Gosto muito do formato porque a cada seis meses aprendemos sobre um assunto novo, estamos em uma turma diferente, com outros professores. Cada semestre temos uma nova experiência.” Apesar de gostar da mudança, ela diz que em alguns cursos sentiu vontade de aprofundar mais o estudo, como no aprendizado da língua italiana.

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Para o diretor Silvio Freire, a flexibilidade da reforma do ensino médio é positiva por permitir a oferta de mais eletivas, já que a grade traz menos disciplinas obrigatórias. “O que não concordo é que o aluno tenha de escolher ao fim do 9.º ano qual itinerário formativo quer fazer nos próximos três anos. Aqui os alunos escolhem só para o próximo semestre. Porque ainda são novos, têm muitos interesses e curiosidades, que mudam de tempos em tempos.”

Para entender: A 1ª versão da Base nacional

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A Lei do Novo Ensino Médio foi sancionada pelo presidente Michel Temer em fevereiro do ano passado. A mudança passará a valer no segundo ano letivo após a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para essa etapa. A previsão é de que 60% do currículo seja preenchido pela BNCC e os 40% restantes sejam flexíveis.

A primeira versão da BNCC do médio, apresentada na semana passada, deixa de dividir os conhecimentos que devem ser adquiridos pelos estudantes em cada série. As habilidades são descritas de forma geral para toda a etapa, sem qualquer progressão que considere a idade do aluno. Além disso, as únicas duas disciplinas detalhadas no documento – e consideradas obrigatórias em todos os anos – são Língua Portuguesa e Matemática.

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