Chapa de situação vence eleições para o DCE da USP

Com o maior número de militantes, Não Vou Me Adaptar tem filiados ao PSOL e ao PSTU

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Por Carlos Lordelo e Cedê Silva
Atualização:

SÃO PAULO - Numa eleição com número recorde de votos (ao todo foram 13.134), a chapa situacionista Não Vou Me Adaptar venceu a corrida pelo DCE da USP, derrotando a nêmesis do movimento estudantil de esquerda, a Reação. Eram 3h da madrugada deste sábado, 31, quando a comissão eleitoral anunciou o resultado na sede do Centro Acadêmico da ECA, no câmpus do Butantã, zona oeste.

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A NVMA recebeu 6.964 votos (51% do total). A Reação ficou em segundo lugar: foi escolhida por 2.660 estudantes (19%). O mesmo porcentual obteve a terceira colocada, Universidade em Movimento (2.579 votos). Nas duas últimas posições vieram a 27 de Outubro (503 votos - 4%) e a Quem Vem Com Tudo Não Cansa (254 votos - 2%).

Também foram registrados 46 votos brancos e 128 nulos.

"Os estudantes se juntaram para dar uma resposta à truculência do reitor (João Grandino Rodas)", diz o diretor reeleito e aluno de Ciências Sociais Pedro Serrano, de 20 anos. "Somos a chapa mais representativa, com militantes em todos os cursos e unidades da USP."

Apuração

A apuração das 58 urnas começou por volta de 22h de sexta-feira, 30. Os malotes foram distribuídos entre mesas compostas por um representante de cada chapa, exceto da Quem Vem Com Tudo - só um partidário acompanhava o processo em nome do grupo.

A cada urna apurada, a comissão escrevia o resultado em um mural colocado na parte externa da vivência do C.A. Logo na primeira parcial a NVMA assumiu a dianteira: teve 46 votos no Instituto Oceanográfico, enquanto a Reação recebeu 10.

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Cerca de cem pessoas acompanhavam a apuração do lado de fora, a maioria militante da NVMA. Elas vibravam a cada vez que sua chapa "conquistava" uma unidade da USP. E vaiavam quando as urnas indicavam vitória da Reação.

No fim da apuração, a NVMA ganhou 38 das 58 urnas. Sem surpresa, a Reação teve melhor desempenho em unidades com a Poli e a FEA.

Campanha

O assassinato do aluno da FEA Felipe Ramos de Paiva, em maio do ano passado, desencadeou uma série de eventos que pautaram a eleição. A reitoria firmou convênio com a Polícia Militar para aumentar a segurança no câmpus e, semanas depois, três estudantes foram flagrados com maconha no estacionamento da FFLCH. 

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Policiais queriam levar os jovens para a delegacia, mas centenas de estudantes tentaram impedir. Houve tumulto e quebra-quebra. Em repúdio à ação policial, cerca de cem pessoas invadiram o prédio administrativo da FFLCH. O grupo deixou o edifício e invadiu a reitoria após uma assembleia estudantil rachada, na qual o DCE Todas as Vozes (cujos integrantes são os mesmos da chapa eleita Não Vou Me Adaptar) defendeu a desocupação da FFLCH. A mesa encerrou a reunião, mas uma parte dos estudantes, insatisfeita com o resultado, reabriu as atividades e decidiu ocupar a reitoria.

A administração da USP pediu e a Justiça determinou a reintegração de posse do edifício. Cerca de 500 policiais participaram da ação. Eles prenderam 72 pessoas no prédio - que depois se autodenominaram "presos políticos". A ação acabou unificando o movimento estudantil, e o DCE tornou-se peça-chave na defesa dos "presos políticos" e na declaração de greve dos alunos - em novembro.

A paralisação deu argumentos para quem defendia o adiamento da eleição para o DCE. A decisão de cancelar a votação no fim do ano passado foi tomada por uma assembleia sem competência para tanto - mas depois referendada pelo Conselho de Centros Acadêmicos.

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No início deste ano, nova polêmica: um PM sacou uma arma para um aluno em frente ao Centro de Vivência da USP e motivou uma nova onda de protestos estudantis.

O maior temor das quatro chapas de esquerda - "o pior cenário", como disse Gabriel Landi, estudante de Direito da chapa Quem Vem Com Tudo Não Cansa - era a vitória da Reação, única favorável à presença da PM no câmpus. Se a nomeação de um coronel para chefiar a Guarda Universitária e a denúncia de que policiais da região recebem suborno de traficantes vieram muito tarde para pautar os debates, é certo que a liderança estudantil continuará em confronto com a polícia, nem que só no discurso.

A NVMA recebeu críticas das chapas de esquerda por vários motivos: convocou poucas assembleias em 2011, votou contra a invasão da reitoria e fez campanhas alheias aos interesses diretos dos estudantes (pedia, por exemplo, a saída de Ricardo Teixeira da CBF). No mês passado, em visita à Grécia, o mestrando Thiago Aguiar, de 22, um dos expoentes da atual gestão, publicou vídeo no YouTube mostrando dois jovens militantes identificados como Iasonas e Dimitris. O primeiro diz, em inglês com forte sotaque: “Nós apoiamos sua greve contra a polícia, nós apoiamos sua greve contra a Reação”. O segundo completa, em português: “Estamos juntos. Fora Rodas!”. A bandeira de deposição do reitor continuará hasteada no câmpus.

* Atualizada às 8h45

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