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Carreira e estudo caminham juntos

Especialistas ressaltam peso da educação continuada num mercado em transformação

Por Túlio Kruse e especial para o Estado
Atualização:

Reformar-se constantemente para se adequar a um mercado em transformação. A ideia de que a tecnologia vai revolucionar as bases da produção, de forma acelerada e imprevisível, tem feito organizações e escolas repensarem a preparação dos profissionais. A resposta de especialistas em carreiras e das universidades para a questão tem sido clara: reforçar a importância da educação continuada.

Em parte, a preocupação com a garantia do emprego é resultado dos avanços em áreas como automação e inteligência artificial. No Brasil, por exemplo, cerca de 15,7 milhões de trabalhadores podem ser afetados pela automação, segundo pesquisa da consultoria McKinsey. São profissionais que terão parte de suas funções afetadas, mudarão para outras áreas dentro de suas empresas, e podem até migrar para novas profissões. Para 70% da força de trabalho, segundo a consultoria, cerca de um terço das suas funções serão automatizadas.

Murilo Cavelliccu, diretor de Gente e Gestao da Catho (E) eRicardo Basaglia, diretor executivo da Michael Page, com a jornalista Renata Cafardo Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão

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O impacto dessa transformação nas taxas de desemprego vai depender de fatores como crescimento econômico, média salarial, envelhecimento da população e investimento em capacitação profissional. Em cada país, a adaptação ao novo cenário deve ocorrer de forma diferente.

“Os ocupantes desses empregos passarão por um período crítico e penoso em suas vidas, mas poderão atenuar esse infortúnio se estiverem preparados para exercer novas funções – e isso é conseguido com a chamada educação continuada, na qual o profissional está sempre se reciclando”, disse o vice-reitor de Planejamento, Administração e Finanças da Universidade Paulista (Unip), Fábio Romeu de Carvalho, na abertura do Fórum Estadão Caminhos e Carreiras. “O ser humano jamais deixará de ter o seu valor.”

O aprendizado para a carreira pode vir tanto através das aulas quanto pela experiência: no próprio trabalho, em estágios e em projetos de extensão acadêmica proporcionados pelas instituições de ensino. Uma vez no mercado, muitas vezes com pouco tempo para se dedicar a novos estudos, o profissional deve estar atento à evolução que a atividade no emprego proporciona, aconselham especialistas.

“Enquanto você está saltando de uma curva de aprendizado para outra, esse ciclo continua virtuoso”, diz o diretor de Gente e Gestão do site de empregos Catho, Murilo Cavellucci. “Se você estacionar no seu aprendizado, possivelmente é hora de buscar um novo desafio. É mais um olhar para dentro do que para fora.”

Automação. Para especialistas em carreira, muito da ansiedade relacionada à discussão sobre uma suposta extinção de empregos por causa da automação tem contornos de exagero. As profissões não desaparecem subitamente, eles dizem, e a atenção do estudante deve ficar mais focada na transformação do modelo da carreira do que no fim do emprego.

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Além disso, um caminho seguro é apostar naquilo que programas e máquinas não dominam: emoção, empatia e ética. “Não é a inteligência artificial que acaba com a maior parte dos empregos, e sim a inteligência emocional que acaba com a maior parte dos empregos e das carreiras”, conta o diretor executivo da consultoria em recrutamento Michael Page, Ricardo Basaglia.

A última pesquisa da empresa aponta que 91% dos profissionais são contratados por questões técnicas e depois demitidos por questões comportamentais, segundo o diretor. “O foco em se desenvolver emocionalmente é o que faz a maior parte dos executivos avançarem.”

Empreender. Para quem pensa que o empreendedorismo é mais baseado na intuição para negócios do que na educação constante, o fundador do site Getninjas, Eduardo L’Hotellier, rebate o que chama “mito do Vale do Silício” – a impressão de que exemplos como Steve Jobs, que largou a faculdade na Califórnia para fundar a Apple, se aplicam a qualquer caso.

“Ele passou na faculdade, estava fazendo o curso e conseguiu, com as conexões ali e o aprendizado que ele teve, empreender”, ele ressalta. “Uma boa formação acadêmica e um bom início profissional não é 100% necessário – é possível ir sem – mas com certeza ajuda muito.”

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L’Hotellier, ele mesmo um exemplo de sucesso no empreendedorismo, à frente de uma empresa com 110 funcionários, também teve de adaptar sua formação para seus objetivos: formado em Engenharia, fez pós-graduação focadas em Administração e Finanças.

TRÊS PERGUNTAS PARA.... Eduardo L’Hotellier, fundador e presidente executivo do site Getninjas

1. Empreender é para todo mundo? Como saber se é para você ou não? Acho que empreender é para quem tem a vontade e a coragem de fazer, e sabendo que é o caminho mais difícil, porque a segurança financeira não vem com o empreendedorismo. Ter um emprego é muito mais seguro financeiramente na maioria das vezes. Para empreender, você tem de saber que pode não dar certo. Você tem de ser uma pessoa que propensa a tomar riscos que não são pequenos.

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2. Como sua graduação ajudou no caminho que você escolheu? Minha formação mais básica é de Engenharia, depois estudei Administração. Mas o que falta é um pouco de mundo real. Você aprende teorias administrativas, administração científica, administração moderna. Mas como você contrata uma pessoa? Como fazer uma entrevista para contratar, ou como demitir? Como dar feedback para um funcionário? A faculdade pode nos ensinar boas teorias, mas falta prática.

3. Qual o maior desafio para empreender? É construir um time ao redor de você. Ninguém empreende sozinho. Você precisa atrair bons profissionais. E é muito difícil no começo. Primeiro, você não tem dinheiro para pagar bons salários. Segundo, você não tem histórico para falar que é bom. Você tem um sonho, uma ideia maluca e tem de convencer alguém a comprar essa ideia, quando ela poderia trabalhar numa grande empresa, ganhando mais. 

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