Caminhos cruzados

Flávio leciona em universidade por causa do professor predileto – que, como ele, também cursou Direito

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Por Felipe Mortara
Atualização:

O ex-aluno do Agostiniano Mendel Flávio Batista (à esq.) ao lado do professor Vagner da Silva

 

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Flávio Roberto Batista tinha 16 anos quando atravessou os portões do Colégio Agostiniano Mendel, no Tatuapé, pela última vez. Fazia tempo que não via seu professor predileto, Vagner da Silva, que ensina história. Descobriu, no reencontro promovido pelo Estadão.edu, que as afinidades com ele só aumentaram de lá para cá.

 

Os dois decidiram estudar Direito. Além disso, Flávio, de 26 anos, virou professor na Faculdade de Direito de São Bernardo. “Agora vejo o seu lado, é muito difícil prender a atenção de todos. Tenho ainda mais dificuldades por aparentar ser mais novo do que já sou, por isso uso sempre terno e gravata”, conta. “Você tem que se impor no discurso, mostrar que domina aquele assunto como ninguém”, aconselha Vagner.

 

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Flávio sempre quis ser juiz, mas após se formar em Direito na USP, em 2005, foi aprovado num concurso na Advocacia-Geral da União e mudou de planos. Vagner, de 43, é bacharel e, embora vá prestar o Exame da OAB em breve, não pensa em trabalhar na área. O contato com os livros jurídicos só lhe deu mais certeza de sua vocação: “Nasci para ser professor.”

 

É a deixa para Flávio lembrar de uma aula sobre a Guerra do Paraguai, no fim do ensino médio. Vagner usou trilhas de filmes do compositor italiano Ennio Morricone de fundo durante a leitura de relatos de pais que perderam filhos no conflito e propôs aos alunos uma reflexão sobre como eles se sentiriam. “Chorei do começo ao fim”, diz Flávio.

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O professor lembra que Flávio se destacava em tudo, apesar da preferência por matérias de Humanas. “Ele tinha tudo para ser prepotente, mas sempre foi humilde. Isso me marcou”, diz. “Eu era integrado. Quando via um amigo com dúvidas, me dispunha a ajudar – a escola não era fácil.”

 

Colégio católico comandado pelo padre Conde de Prado, o Mendel não se importa com a fama de ser puxado. “Vestibular é mesmo o nosso maior foco”, admite Luiz Felipe Fuke, coordenador do ensino médio.

 

O foco no desempenho dos alunos nos processos seletivos ajudou a escola a ter bom desempenho no Enem. Mas Vagner acha que isso não tirou o seu “lado humano”. “A gente acaba se apegando às turmas. É preciso que os alunos se sintam queridos”, diz.

 

Pouco antes de se despedir do ex-professor com um abraço, Flávio falou da sensação do reencontro. “É uma delícia voltar, a relação emocional é forte e o Vagner me marcou muito. Foi com esse cara que surgiu meu amor à docência.”

 

FRASES

 

"O colégio me ensinou a ter didática. Você passa anos vendo aula e, se souber observar os professores certos, pega o jeito. O Vagner foi dos principais”Flávio Roberto Batista, ex-aluno

 

"A gente acaba se apegando às turmas. É preciso que os alunos se sintam queridos”Vagner da Silva, professor

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