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Aulas para executivos preparadas sob medida

Os cursos in company são montados caso a caso pelas escolas de negócios, de acordo com as necessidades das empresas

Por Luciana Alvarez
Atualização:
Advocacia. Escritório Pinheiro Neto montou escola em parceria com a Saint Paul Foto: Divulgação

Empresas e escolas de negócios estão se unindo para organizar cursos sob medida para executivos, moldados caso a caso, segundo as necessidades das corporações. Muitas vezes são MBAs ou especializações com turmas fechadas, para funcionários escolhidos pela companhia. Em outros casos, os cursos chamados in company têm formatos únicos, que simplesmente não se encaixam nas categorias padrão.

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No Brasil, cinco instituições de ensino são renomadas na modalidade in company: Fundação Dom Cabral, Insper, Fundação Instituto de Administração (FIA), Saint Paul Escola de Negócios e Fundação Getúlio Vargas (FGV), reconhecidas no ranking deste ano do jornal britânico Financial Times pela qualidade da educação corporativa que oferecem.

Um curso in company ajuda a melhorar o relacionamento entre os colegas, assim como cobrir lacunas do profissional na função atual e prepará-lo para avançar na carreira que a empresa prevê para ele. Por outro lado, os objetivos individuais, a troca de experiência com pessoas de outros mercados e a construção de networking são melhor atendidos em cursos abertos, quando o próprio funcionário escolhe o que e onde estudar. Assim, na maioria das carreiras, o ideal é que as diversas modalidades coexistam e se complementem. 

Formado em Administração e Direito, Aldo Francisco Guedes Leite trabalha desde 2011 no setor jurídico da Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), uma paraestatal do chamado Sistema S. Como sabe que “não pode parar nunca de estudar”, já havia feito cursos que ele mesmo escolheu. Mas em 2015 teve pela primeira vez a oportunidade de fazer um in company, embora com aulas bem longe do escritório.

Ele fez um MBA em gestão empresarial pela FIA fechado apenas para profissionais do Sescoop. “Foram abertas 35 vagas para todos os setores, de toda as 27 unidades. Passei por um processo seletivo interno e fui chamado.” Todo mundo se deslocava para São Paulo - Leite é de Brasília. As aulas terminaram em outubro. 

Sobre o curso, o advogado só tem elogios. “A metodologia foi bem bacana, com 13 módulos de estudo muito intensos. Os temas eram todos atuais, com exemplos práticos.” Segundo ele, já é possível sentir resultados no dia a dia. “Brinco que fizemos no setor um recall de processos. Consegui também evoluir no meu papel de liderança, conheci o lado conceitual importante sobre sinergia gerencial, como aperfeiçoar o feedback.”

Para ele, houve dois diferenciais em relação aos cursos abertos: a teoria foi direcionada à realidade da empresa e o alinhamento de processos com os gestores de várias áreas. “Participaram o gestor da biblioteca ao da área financeira, colegas do Amapá a São Paulo. Foi um ganho nos aproximar, criou muita abertura.”

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Com tudo pago pela empresa - curso, viagens e hospedagens -, Leite tem o compromisso de ficar mais 18 meses no emprego. Mas acredita que os ganhos pessoais e corporativos não têm prazo para acabar. “Há questões transversais, macroprocessos, comuns à gestão em qualquer situação.”

Lado financeiro. Como os cursos in company são de interesse da empresa, é natural que a empresa banque os custos. “Mas algumas pedem uma coparticipação dos alunos. Depende da política corporativa”, diz Luiz Ernesto Migliora, diretor executivo da FGV. Assim como há diversas formas de pagamento e subsídios, tampouco há “receita de bolo” para o formato dos cursos.

“Se forem programas de curta e média duração, damos certificados para os alunos, como cursos de atualização. Há casos em que a necessidade é que a equipe de Marketing melhore os conhecimentos sobre pesquisas quantitativas. Não hánecessidade de estender demais.” Em geral, o modelo mais comum é a empresa indicar que funcionário deve fazer o curso, mas há também aquelas que abrem inscrições.

A educação corporativa também pode ser destinada aos mais variados postos hierárquicos. Uma turma de MBA in company pode abrigar 30 ou 40 pessoas. Muitas vezes os cursos in company ocorrem na verdade na sede das escolas de negócios, embora com turmas fechadas. “Há empresas sem infraestrutura para aulas. Também pode ser mais interessante tirar o executivo da empresa, para que ele não seja chamado a resolver questões urgentes”, diz Magliora, da FGV. 

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Dentro e fora da empresa. Lançada em março de 2012, a Escola de Formação do escritório de advocacia Pinheiro Neto foi desenvolvida em parceria com a Saint Paul Escola de Negócios, para o desenvolvimento contínuo dos advogados. Desde então, foram mais de mil horas-aula, em 76 cursos. “Organizamos cursos internos para dar capacitações ao longo de toda a carreira. Os profissionais têm trilhas específicas que podem escolher, como a área propriamente jurídica ou a de negócios, por exemplo”, explica Raphael de Couto, sócio do escritório. Assim, se um advogado tem perfil mais técnico, pode seguir pela trilha jurídica. Se tem ambições gerenciais, opta por cursos em negócios.

Os cursos in company no Pinheiro Neto existem desde 2004, mas ganharam mais alunos com o passar dos anos. “Percebemos que seria importante para nossos advogados terem noções de contabilidade. É algo que não é abordado na faculdade, mas é bem relevante no dia a dia”, conta sobre as origens da iniciativa. Mas a oferta de cursos que a empresa julga importante não exclui o apoio a outras formas de aprimoramento. “Há assuntos que não interessam a todos. Temos muitos advogados que fazem mestrado. Patrocinamos cursos externos também.”

Seja qual for a forma, o investimento em cursos sempre vale a pena para a empresa, garante Couto, pois melhora a qualidade de serviço ou produtos. “Estamos preparando nossa equipe para que seja de alta qualidade, para que trabalhe em nível superior. Queremos a certeza de que vão atender com excelência.”

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O diretor executivo da Fundação Dom Cabral, Roberto Sagot, concorda que o curso in company não substitui os que o profissional faz com pessoas de outras empresas, que levam a vivências fora de seu setor. “O programa customizado é uma ferramenta de desenvolvimento a serviço da empresa, uma solução organizacional. O profissional tem de assumir o próprio desenvolvimento, ser protagonista de sua carreira.”

Alessandra Yamamoto, coordenadora do Insper Foto: Divulgação

Os profissionais, tampouco, devem desprezar as oportunidades que lhe são oferecidas dentro da corporação. Mas, como todos os cursos, os treinamentos precisam ter qualidade para dar resultado. “A formação ajuda dentro da empresa, de forma a alavancar o desempenho profissional. E, se conseguir de fato alinhar teoria e prática, o curso serve para a vida toda porque, além de resolver o problema do momento, o aluno consegue extrapolar para outras situações.”

Em grandes corporações, necessidades e benefícios do in company são evidentes. Mas esse curso também se aplica a média e pequenas empresas. “Promove formações internas aquela companhia que vê que precisa aumentar sua capacidade de reter talentos para ser mais produtiva. Há empresas de vários tamanhos, de todos os setores. É mais um perfil de empresa que investe no aprendizado”, diz Alessandra Utiyama Yamamoto, coordenadora dos cursos customizados da Educação Executiva Insper. Segundo ela, com empresas menores é possível montar um esquema de consórcio, com duas ou três juntas, desde que não sejam concorrentes.

Por empresa ou em consórcio, uma vantagem clara é o preço. “É preciso ter uma turma de 20 ou mais. Em um MBA, aceitamos no máximo 40 por sala. Os preços por profissional saem no mínimo 30% menores”, diz Almir Ferreira de Sousa, coordenador de Projetos da FIA. Há também questões práticas para pesar na balança. “Se há um espaço físico na empresa, o profissional não precisa se locomover. E, quando se faz a defesa pública das monografias (em MBAs e cursos de extensão), o conhecimento se dissemina, tem consequência na cultura empresarial.”