Associação dos professores da USP decide não aderir à greve de alunos

Proposta foi a votação em assembleia, mas saiu derrotada; docentes participam de ato nesta quinta-feira

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Por Felipe Frazão , Felipe Tau , de O Estado de S. Paulo e do Jornal da Tarde
Atualização:

A Associação dos Docentes da USP (Adusp) decidiu na noite desta quarta-feira, 9, não aderir à greve dos estudantes aprovada ontem. A proposta de paralisação das atividades foi a votação durante assembleia extraordinária, mas não teve apoio da maioria dos professores. A reunião ocorreu no Instituto de Matemática e Estatística, na Cidade Universitária, zona oeste da capital.

 

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Os docentes, porém, confirmaram participação na assembleia geral dos estudantes marcada para esta quinta-feira, às 14h, em frente à Faculdade de Direito do Largo São Francisco, no centro. Durante a reunião, os professores demonstraram simpatia à pauta dos alunos: a saída da Polícia Militar do câmpus e a revisão da política de segurança da universidade.

 

Nos informes da assembleia, alguns docentes condenaram "abusos" na atuação da PM no câmpus. Segundo eles, policiais estariam abordando alunos na saída de bibliotecas e nos gramados da universidade.

 

Já o Sindicato dos Trabalhadores (Sintusp) vai discutir como participar do movimento dos estudantes em assembleia nesta quinta-feira, ao meio-dia, na sede da entidade. "Nossa pauta é comum: a saída da PM do câmpus, a revogação de processos administrativos e disciplinares contra alunos, servidores e professores e, agora, a retirada dos processos contra os 72 detidos ontem", disse o diretor de base do sindicato, Domenico Colacicco. De lá, os funcionários prometem se juntar aos estudantes e professores no centro.

 

Mobilização

 

Numa assembleia com 2 mil alunos ontem à noite, estudantes de toda a universidade votaram ontem pela greve em protesto contra a ação da PM que, horas antes, havia detido 72 pessoas numa operação para desocupar a reitoria. O prédio da administração tinha sido invadido no dia 2 por alunos que desejam o fim do convênio que permite à PM atuar de forma mais ostensiva na Cidade Universitária.

 

Os alunos em greve têm a mesma pauta do grupo que ocupou a reitoria. Além de pedir a saída da PM do câmpus, querem a revogação de processos administrativos e disciplinares contra estudantes, funcionários e professores.

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A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) foi a escola com maior adesão à greve na manhã desta quarta, com algumas aulas suspensas. Em outras grandes unidades, como a Escola Politécnica e a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, o dia foi normal. O Centro Acadêmico da FEA até divulgou uma nota em que diz ser contra a greve.

 

Na Letras, mais de 250 alunos fizeram uma assembleia pela manhã na qual a proposta de apoio à greve saiu vencedora por 43 votos (148 a 105). Integrantes do C.A. disseram que haveria nova assembleia à noite. Eles garantiram que não impedirão a entrada de alunos que queiram assistir às aulas.

 

Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), uma assembleia com cerca de 400 alunos de Arquitetura decidiu nesta tarde, por maioria, aderir à paralisação. “Essa paralisação faz-se necessária depois do que ocorreu ontem”, afirmou o estudante Luís, que preferiu não dizer o sobrenome, referindo-se à operação da polícia. “A greve serve para desmentir o paradigma de que a manifestação na reitoria foi só para que os estudantes possam fumar maconha. Isso desencadeou a situação, mas está longe de ser o motivo principal.”

 

Pelo Twitter (@dcedausp), o Diretório Central dos Estudantes (DCE) afirma que os alunos de Artes Cênicas, Audiovisual, História e Letras noturno também votaram pela greve em assembleias realizadas nesta quarta.

 

Estudantes

 

Na Letras, antes mesmo da assembleia da manhã, alunos já tinham colocado uma lousa na entrada do prédio e empilhado carteiras num dos corredores, o que atrapalhava, mas não impedia a circulação dos colegas.

 

Alguns estudantes disseram que a rotina não sofreu alterações, enquanto outros não tiveram aulas. O aluno do 2.º ano que se identificou como Artur M., de 18 anos, disse que não houve aula de Linguística nesta manhã. No lugar dos 60 alunos habituais, só havia cinco e o professor cancelou a atividade.

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Apesar de ter tentado assistir à aula, Artur disse que está solidário com os grevistas. “Comecei a apoiar a manifestação dos estudantes ontem, depois que desci do ônibus para tomar café da manhã no bandejão e vi aquele monte de PMs no câmpus.”

 

Formada em Pedagogia, uma aluna de Letras de 27 anos, que não quis se identificar, criticou a decisão de fazer a greve. “A prisão dos estudantes foi justa. Eles invadiram um prédio público. Se quisessem se manifestar, eles tinham outros meios.”

 

A estudante disse que não iria participar de nenhuma assembleia. “Não me manifesto porque quem é contra o pessoal que organiza não tem vez e ainda é agredido verbalmente.”

 

Na FAU, também nesta manhã, os estudantes favoráveis à greve também usaram o expediente de empilhar carteiras e um mural de madeira em rampas, mas não as obstruíram totalmente. Não houve suspensão de aulas. Uma diretora do C.A. que se identificou apenas como Renata disse que os alunos se preocuparam em distribuir panfletos e convocar os colegas para a assembleia da tarde.

 

Aluno de um programa de intercâmbio, o francês Lucas Eydoux, de 21 anos, está há quatro meses na FAU. Ele disse ser favorável à manutenção de um esquema de segurança no câmpus, mas criticou a ação da PM. “A polícia não deveria fazer uma invasão como a de ontem, ainda mais com uma tropa de elite. Se fosse na França, certamente os alunos se revoltariam e quebrariam tudo.”

 

Aluno do curso de Design, Daniel Preto, de 24 anos, foi à FAU entregar um trabalho. Ele disse ter dúvidas sobre se a PM deve fazer o policiamento do câmpus. Mesmo assim, criticou a greve. “O assunto é importante, merece ser discutido, mas a greve não é o melhor caminho”, disse. “Se você faz greve, os menos engajados nem vem à escola e uma parcela importante da universidade acaba sendo retirada da discussão.”

 

Daniel sugeriu a quem for contra a presença a PM a realização de passeatas “pacíficas e organizadas”. “Uma multidão exaltada pichando prédios do governo não é a melhor forma de ser ouvido.”

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Contrários

 

Representante do C.A. da FEA, Thomás de Barros, de 22 anos, aluno do 4.º ano de Economia, criticou a radicalização da mobilização dos estudantes e explicou a recomendação passada aos colegas para que não apoiem a greve. “A gente acha que todo o movimento não tem se pautado pelo diálogo e está estimulando uma polarização muito grande”, disse. “Temos notado uma constante radicalização, tanto para a direita quanto para a esquerda. E os moderados estão ficando reféns disso.”

 

O Grêmio Politécnico não se definiu sobre a greve, mas não tem pressa de fazê-lo. A entidade pretende realizar uma assembleia até o fim desta semana ou no começo da próxima. Segundo o diretor Alessandro Andrade, de 20 anos, aluno de Engenharia de Produção, o grêmio quer ouvir a comunidade da escola, formada por 4,6 mil estudantes de graduação e 2,3 mil de pós. “A greve foi declarada sem que os alunos da Poli tivessem tido tempo de se expressar. Aqui por enquanto está tudo normal.”

 

Reitoria

 

Em frente do prédio da reitoria, epicentro da agitação na universidade nos últimos dias, a manhã foi tranquila. Cerca de 40 policiais em 12 veículos faziam a segurança do local.

 

A reportagem apurou que a PM tem ordens para manter o esquema de segurança indefinidamente. Se for necessário, os policiais podem ser substituídos por homens da Tropa de Choque.

 

Os servidores da reitoria só retomarão o trabalho no prédio nesta quinta-feira.

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* Texto atualizado às 22h20

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