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Aos 180, Colégio Pedro II olha para o futuro

Uma das melhores da rede pública do País, escola ficou no centro de polêmicas neste ano

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Por Roberta Jansen
Atualização:
Unidade do Colégio Pedro II, em São Cristóvão, zona norte do Rio Foto: Wilton Junior/Estadão

RIO - Primeira escola e ensino secundário do País, o tradicional Colégio Pedro II, no Rio, comemora neste mês 180 anos de fundação. Ainda cobiçado pelos pais que buscam ensino de qualidade para os filhos, o Pedro II se viu no centro de recentes polêmicas policiais.  <IP>No último dia 26, ao menos dez alunos da Unidade Humaitá, na zona sul carioca, foram apreendidos em operação da Polícia Federal – três deles levavam pequena quantidade maconha. 

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Cinco dias antes, o diretor da Unidade São Cristóvão, na região central, havia sido preso por falso testemunho sobre um caso de abuso sexual de 2015. Na época, uma estudante de 12 anos foi violentada por outros alunos, também adolescentes. O diretor disse desconhecer o episódio, mas acabou desmentido por outros funcionários. 

Ao mesmo tempo, a instituição mantém posição de destaque. Em 2015, oito das 13 melhores notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de escolas públicas do Rio foram de unidades do Pedro II. 

Os dois casos policiais revoltaram pais de alunos e se tornaram assunto em veículos de comunicação e redes sociais. Mostraram o quanto temas como violência sexual e drogas podem ser desafiadores.

“Chegou a hora de nossos currículos olharem para situações cotidianas do século 21 que todos vivemos, mas não são contempladas”, afirma o reitor da instituição, Oscar Halac, ao ser perguntado sobre os maiores desafios do colégio, de aproximadamente 13 mil alunos. 

“Precisamos ter noções de cidadania, que façam menção, por exemplo, às leis de trânsito, alcoolismo, uso de drogas. Também é importante que ideias de igualdade, questões de gênero e de racismo sejam debatidas na escola para formarmos uma geração sem preconceitos”, diz.

Para Halac, toda vez que um jovem é preso ou morto por excesso de violência, velocidade ou uso de drogas, a responsabilidade também é da escola. “Nesses casos, estamos diante de um fracasso escolar, uma falha no sistema”, acrescenta.

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Por meio de nota, o colégio ainda informou que os alunos acusados do estupro foram expulsos na ocasião e disse que o caso foi encaminhado ao Conselho Tutelar. O diretor da Unidade São Cristóvão foi liberado da prisão após retratação. 

Referência. Desde 1837, o Pedro II tem servido de inspiração para o sistema educacional do País. “Toda a história da educação brasileira está no Pedro II”, diz a professora de História Beatriz Marques dos Santos, coordenadora do Núcleo de Educação e Memória do colégio, com um acervo de 19 mil itens.  “Em termos de linha de pesquisa, nosso acervo conta a história da educação, das instituições escolares, dos livros didáticos, das decisões pedagógicas e administrativas.”

Hoje o colégio, de administração federal, tem 14 câmpus – 12 na capital, um em Niterói e outro em Duque de Caxias, na Grande Rio. A ampliação para a região metropolitana, de 2006, é uma forma de alcançar alunos mais pobres.

“Um dos fatores mais importantes para a inserção social foi o sistema de cotas”, avalia Halac. “Com isso, a escola passou a ter um número maior de alunos que precisam da escola pública”, completa. Assim como nas universidades federais, o colégio reserva parte das vagas para alunos de escola pública. De acordo com levantamento realizado pelo próprio colégio no ano passado, cerca de 28% dos estudantes se declaravam como pretos e pardos. 

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“O colégio tem gente de muitas classes sociais diferentes, das mais altas às mais baixas, e todos são tratados de igual para igual. Minha filha agora estuda lá e vestiu a camisa literalmente”, conta o taxista Antônio Guedes, de 59 anos, ex-aluno do Pedro II. “Só quem estudou lá sabe desse sentimento diferente que nos une, os eternos alunos”, completa. 

Ao longo dos anos, alunos do Pedro II tiveram forte atuação política. De lá, saíram líderes de atos contra a ditadura militar e pelas eleições diretas no País, na década de 1980. Para Halac, o colégio “participa da história do País, formando cidadãos capazes de se posicionar e de influenciar no desenvolvimento político, econômico e social da nação.”

Correções

Matéria atualizada para correção de informação. O diretor da Unidade São Cristóvão foi liberado da prisão&nbsp;após retratação, e não pagamento de fiança.

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