Os dados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) são mais um indicativo da dificuldade que temos ao enfrentar as desigualdades regionais. Já ao final do 3º ano do ensino fundamental, a diferença entre os resultados dos estados do país mostra-se muito grande, sendo, na maioria dos casos, reflexo de desigualdades socioeconômicas.
Estudos nacionais e internacionais mostram que questões socioeconômicas refletem em desigualdades de aprendizagem muito cedo, como na amplitude do vocabulário, no desenvolvimento motor e socioemocional e na aquisição de habilidades e conhecimentos. Essa desigualdade precisa ser combatida desde muito cedo, pois há muitas evidências de que ela só se amplia com o passar dos anos letivos, e revertê-la no ensino médio é quase impossível.
Tanto em Leitura como em Matemática, mais de 50% das crianças do país demonstram ter um nível insuficiente de aprendizado para sua série, de acordo com a escala da avaliação. Pior, se olharmos apenas para os resultados do Norte e do Nordeste, 7 a cada 10 crianças não dominam as habilidades esperadas. Aliás, a desigualdade brutal em matemática tão cedo chama a atenção, já que as questões familiares/econômicas, geralmente, têm menor influência se comparadas ao impacto que têm em leitura.
Queremos aqui fazer duas sugestões para o combate dessas desigualdades: a primeira é que busquemos oferecer mais recursos pedagógicos para as escolas que atendem alunos de baixa renda. Havendo limitação de recursos, que se priorize a educação infantil e os primeiros anos do ensino fundamental. Já a segunda é que de fato trabalhemos para uma implementação efetiva da Base Nacional Comum, e que a partir dela se tenha altas expectativas e suporte ao trabalho pedagógico dos educadores. Precisamos de escolas em que um aluno de baixa renda possa se desenvolver tanto quanto os alunos mais favorecidos economicamente.
*Ernesto Faria, diretor do Interdisciplinariedade e Evidências no Debate Educacional (IEDE), e Tadeu da Ponte, pesquisador do Insper.