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Alunos da PUC-SP ocupam reitoria em protesto contra escolha de reitora

Professora Anna Cintra foi a última em votação, mas Dom Odilo Scherer a escolheu

Foto do author Marcio Dolzan
Por Carlos Lordelo , Davi Lira , Marcio Dolzan , Ocimara Balmant , Paulo Saldaña , Cristiane Nascimento e Luiza Vieira
Atualização:

Cerca de 400 alunos da PUC-SP invadiram na noite desta terça-feira, 13, a reitoria e decretaram greve horas depois de o cardeal arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, grão-chanceler da universidade, ter nomeado a professora Anna Maria Marques Cintra como nova reitora. Anna Maria ficou em terceiro lugar na eleição para o cargo, em agosto.

 

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As regras para a escolha do reitor na PUC-SP preveem eleição em que alunos, funcionários e professores votam. Uma lista tríplice segue para o cardeal, que tem a prerrogativa de escolher um dos nomes. Tradicionalmente, o primeiro colocado é o escolhido.

 

Após o anúncio da nomeação de Anna Maria, os alunos convocaram uma assembleia no câmpus de Perdizes, zona oeste da capital, para definir o que seria feito. Por unanimidade, foi aprovada a greve dos estudantes e a ocupação da reitoria. Em seguida, eles empilharam carteiras no Pátio da Cruz, no prédio da reitoria, e em corredores da instituição.

 

Além dos alunos, três professores e alguns funcionários participaram da assembleia. “É um absurdo (a escolha do cardeal). Passa por cima da democracia conquistada pela PUC durante todos esses anos”, disse a estudante de Economia Paula Palermo, de 19 anos, da chapa recém-eleita para o centro acadêmico de sua faculdade.

 

Estudantes afirmam ainda que a divulgação do nome da nova reitora às vésperas de um feriadão que vai parar a universidade desta quinta-feira, 15, até terça-feira, 20, teve o objetivo de evitar uma maior mobilização. Segundo Jéssica Sarti, de 23, aluna de Relações Internacionais e representante do movimento de ocupação, o protesto tem fins "simbólicos e políticos". "É a comunidade da PUC tomando controle da reitoria. Nunca na história da universidade o primeiro colocado na eleição não foi o nomeado."

 

Os alunos vão passar a noite no prédio. O acesso principal ficará aberto, após negociação com assessores da reitoria. Na manhã desta quarta, 14, haverá uma assembleia de professores em frente ao edifício.

 

 

Anna Cintra tem 73 anos e leciona há 46 na PUC. Graduada em Letras Clássicas e doutora em Letras Linguísticas, foi chefe de departamento, vice-reitora e presidente da comissão de Pós-Graduação. Hoje, integra o programa de Pós-Graduação em Língua Portuguesa da universidade.

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Sua nomeação ocorreu após uma votação conturbada, em que parte das cédulas foi excluída por não ter a rubrica de mesários. Na ocasião, a chapa de Anna Maria pediu a impugnação da eleição. Uma recontagem acabou sendo aprovada, mas Anna continuou na terceira colocação, atrás do atual reitor, Dirceu de Mello, e da chapa encabeçada pelo professor de Economia Francisco Serralvo.

 

A Assessoria de Imprensa da PUC informou que o reitor Dirceu de Mello não iria se manifestar. Serralvo, o segundo colocado, disse receber a escolha de d. Odilo com “naturalidade”. “Não podemos perder de vista que todos os candidatos entraram num processo sabendo das regras.” Serralvo, porém, reconhece o direito de os alunos protestarem. “Por ser inédito, é legítimo que a comunidade expresse seu descontentamento.”

 

Para o presidente da comissão eleitoral, professor Marcio Camarosano, d. Odilo deve justificar à comunidade acadêmica o porquê da nomeação de Anna Maria. “A universidade escolheu sua preferência na votação, mas sabemos que o cardeal não é obrigado a nomear o primeiro colocado. Só resta saber como a comunidade vai aceitar a decisão da Igreja”, disse ele, que, como o atual reitor, é professor de Direito. “Apesar da prerrogativa, houve uma inobservância da tradição.”

 

* Atualizada à 1h40 do dia 14/11

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