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Alunos aprovam ideia, mas dizem que a concorrência não diminuirá

‘A tendência é acabar o vestibular’, afirma ex-pró-reitor da Unicamp; para professor da Uerj, há risco de elitização

Por Victor Vieira
Atualização:
A estudante Juanitha Brito vai tentar o curso de direito Foto: Gabriela Bilo/Estadão

A reserva de vagas da Universidade de São Paulo (USP) para candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), segundo vestibulandos, deve aumentar as chances de aprovação. Especialistas, porém, dizem acreditar que, para alcançar as metas de inclusão, a estratégia não deve ser totalmente eficaz.

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Ex-aluna da rede pública, a vestibulanda Juanitha Brito, de 18 anos, gosta da ideia de mudança e reclama da complexidade da Fuvest. “Já o Enem é uma prova diferente, que não avalia só o conteúdo, mas outras habilidades, como de interpretação de texto”, afirma. Ela pretende cursar Direito na USP.

Outra vantagem é ter duas oportunidades no mesmo ano. “Diminui o nervosismo. É bem melhor fazer a prova sabendo que há outra chance”, diz a jovem, que não conseguiu passar na Fuvest em 2014.

A concorrência pela vaga, porém, não deve diminuir. “Muitos deixam de prestar a Fuvest porque não são de São Paulo ou de outras cidades onde é feita a prova. Como o Enem é em todo o País, agora vão poder tentar.”

Isso não preocupa Milene Saraiva, de 17 anos, interessada em Medicina. “Já é concorrido de qualquer jeito”, diz. “Meu foco é o vestibular, independentemente de qual for”, afirma. A jovem fez o ensino médio em escola privada, mas com 100% de bolsa. Ela espera que, em casos como o seu, também seja possível tentar a vaga com o Enem.

Desafios. De acordo com Marcelo Knobel, ex-pró-reitor de Graduação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a mudança é positiva. “O Enem traz para a USP mais potenciais candidatos e favorece a mobilidade”, diz. 

“A tendência é, aos poucos, acabar o vestibular como conhecemos”, afirma. A política de bônus na prova, segundo ele, “chegou ao limite” e não será suficiente para atingir as metas.

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João Feres Júnior, pesquisador sobre ações afirmativas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), alerta sobre o risco de incluir só a elite da escola pública. “Vão trazer alunos brancos de classe média.” 

Ele diz acreditar que as vagas, principalmente nos cursos mais concorridos, serão disputadas por egressos de escolas públicas de ponta de todo o País, como colégios de aplicação. A Lei de Cotas das universidades federais prevê critérios de renda e de raça para reservar vagas. O movimento estudantil propõe cotas já para o próximo vestibular, mas a pró-reitoria sinalizou que o debate será feito somente depois. Procurada, a USP não comentou.

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