Abordagem multidisciplinar se fortalece em pesquisas

Da epidemia de zika aos estudos climáticos, atuação conjunta propicia resposta mais rápida a vários assuntos complexos

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Por Redação
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Desafios cada vez mais complexos exigem uma colaboração cada vez maior entre diferentes disciplinas para serem resolvidos, e cabe às universidades fomentar essa multidisciplinaridade para atender às demandas da ciência e da sociedade. A opinião é unânime entre os reitores que participaram da conferência USP 2024. Eles listaram o incentivo a essas parcerias intelectuais como uma das prioridades da academia para os próximos anos.

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“Os problemas globais não são simples, são extremamente complexos e exigem respostas interdisciplinares”, disse o reitor da Universidade Sorbonne Paris Cité, Jean-Yves Mérindol.

Um modelo clássico disso é o estudo das mudanças climáticas globais, que depende de uma forte colaboração entre várias áreas da ciência – incluindo as ciências sociais – para compreensão de suas causas, consequências e soluções, tanto do ponto de vista social, quanto econômico e ambiental. 

Questões tecnológicas também envolvem ciências sociais, diz Merindol Foto: NILTON FUKUDA/ESTADAO

Foto: Questões tecnológicas também envolvem ciências sociais, diz Mérindol

Isso fica claro ao olhar a lista de autores do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, que inclui desde meteorologistas e especialistas em física atmosférica até bioquímicos, ecólogos, médicos, economistas, sociólogos e antropólogos – cada um contribuindo com uma peça do quebra-cabeça.

O geógrafo Jacques Comby, reitor da Universidade Jean Moulin Lyon 3, chama atenção para a importância das ciência sociais, muitas vezes relegadas a um segundo plano de importância na hierarquia acadêmica. “A solução para o desenvolvimento não pode ser apenas tecnológica, científica. Precisamos da reflexão e da participação das ciências sociais”, diz o acadêmico francês, que estuda justamente as mudanças climáticas e outras formas de interface entre o homem e a natureza.

O mesmo princípio vale para questões tecnológicas mais específicas. “Por exemplo, se você procura uma nova solução tecnológica para um carro ou um telefone, você precisa das ciências sociais, porque não é só um problema tecnológico, é um problema social também”, diz o matemático Mérindol. “A interdisciplinaridade entre pesquisa básica, tecnologia e ciências sociais é muito importante, tanto para a universidade quanto para a indústria.” 

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Até mesmo no campo da robótica, a multidisciplinaridade é indispensável, completa o reitor da Universidade de Tsukuba, Kyosuke Nagata. “Imagine que você tem uma empresa tentando desenvolver um cachorro-robô, que pode ser muito importante afetivamente para homens idosos que perderam suas famílias. Se algo acontece com esse cachorro-robô e ele para de funcionar, você diria que ele está quebrado ou morreu? Nós não sabemos”, diz o reitor japonês, que é biólogo molecular por formação. “Hoje a lei diz que ele está quebrado, mas para o homem velho ele está morto. Nesse caso, precisamos de ajuda da filosofia, de uma colaboração entre robótica e ética, robótica e lógica; e essa área é muito forte na nossa universidade.”

A ideia também foi incorporada numa iniciativa de excelência em pesquisas na Universidade Humboldt de Berlim. O reitor Jan-Hendrik Olbertz contou que há grupos que trabalham ciência da computação com música, ou matemática com comunicação. “Essa abordagem interdisciplinar permite à pesquisa contemporânea um conhecimento mais profundo e amplo.”

Incentivo. Tais parcerias entre disciplinas nem sempre ocorrem naturalmente, dizem os reitores – é algo que precisa ser incentivado pelas universidades, e que pode ocorrer tanto entre departamentos da instituição quanto entre pesquisadores de países e continentes diferentes.

A importância da interdisciplinaridade também pode ser vista na resposta à epidemia de zika e sua relação com malformações congênitas em bebês, em que virologistas, entomologistas, neurocientistas, geneticistas, médicos e assistentes sociais estão trabalhando em conjunto na busca de uma solução.

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