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‘A USP não deve ter ensino pago’, diz ex-reitor Waldyr Oliva

Professor aposentado foi reitor entre 1978 e 1982

Por Barbara Ferreira Santos
Atualização:

O engenheiro civil e matemático Waldyr Muniz Oliva assumiu a reitoria da universidade no período de reabertura democrática do País. Foi responsável pela readmissão dos professores exilados pela ditadura e pela criação do sistema integrado de todas as bibliotecas da universidade e da comissão central de informática. 

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O senhor assumiu o cargo de reitor em um período de abertura política. A sua gestão enfrentou protestos da comunidade, que começaram na gestão Paiva, e também uma crise econômica. Como conseguiu lidar com esses desafios?Minha postura sempre liberal, a ajuda constante do vice-Reitor Antônio Brito da Cunha e o meu suporte politico liderado pelo inesquecível Roque Spencer Maciel de Barros forneceram-me a motivação necessária para enfrentar com êxito as dificuldades políticas e acadêmicas que apareceram na altura. 

A universidade enfrenta hoje problemas com o orçamento, praticamente todo comprometido com a folha de pagamento. O que a USP teria de fazer para resolver essa situação?Seria razoável uma revisão minuciosa das atuais estruturas administrativas internas (Reitoria e Unidades) e externas (fora dos Campi Universitários no Brasil e no exterior) mantidas pela universidade visando à eliminação dos gastos que forem desnecessários.

O senhor foi responsável pela readmissão dos professores cassados na ditadura. Como foi esse período de reabertura? Que desafios enfrentou na reitoria?A readmissão dos professores anistiados baseou-se na Lei da Anistia. Criamos na ocasião um quadro especial e, os anistiados que quiseram retornar fizeram-no sem a criação formal, pelo governo do Estado, dos cargos necessários. Como os tais cargos representavam uma pequena margem de despesas para cada Unidade Universitária, as coisas ficaram facilitadas.

Na época, havia pressão do governo do Estado para implementar o ensino pago na USP, o que foi rejeitado pela universidade. Hoje isso seria possível?Deixei a Reitoria há 32 anos e nunca mudei de opinião. Sou contra a implantação do ensino pago na USP pois, isso não passará de uma mercantilização com resultados financeiros insignificantes quando comparados com o atual orçamento. Uma nova tentativa de implantação de pagamentos por parte de alguns alunos seria uma operação complexa e altamente desgastante do ponto de vista politico. 

Com relação à política de inclusão, o senhor defende as cotas? Qual seria o melhor sistema de bonificação na seleção da universidade?Trabalhando no exterior há 21 anos, não tenho acompanhado de perto a questão do sistema de bonificação, e, em particular , das cotas. Entretanto observo que a USP, através de seu Conselho Universitário, tem sido muito cuidadosa nessas questões. O mais importante é não abrir mão da meritocracia.

Que desafios a universidade enfrenta hoje e precisa superar para conseguir evoluir ainda mais?A USP não pode deixar de priorizar seus objetivos principais que são a Pesquisa, o Ensino e a Prestação de Serviços à Comunidade. A procura da verdade e de conhecimentos de modo incondicional realiza-se através da Pesquisa. O Ensino vem a seguir como corolário de que a verdade e os conhecimentos devem ser transmitidos. Os contatos com a Sociedade Civil através da Prestação de Serviços e a interação constante com os setores produtivos continuarão a contribuir fortemente para o progresso cada vez maior de nosso país. Os convênios e intercâmbios bem geridos com países bem dotados cientificamente constituem-se num fator fulcral para os desenvolvimentos de ponta e o aprimoramento de nossas pesquisas assim como para o aperfeiçoamento de nossos docentes, melhora consequente do ensino na universidade e um indiscutível ganho social e tecnológico.

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