Um dia pavoroso Hoje vi crianças jogando futebol na rua e, ao ver o retrato de minha infância, percebo que há muito tempo não via crianças brincando na rua, talvez a última vez fora em minha juventude com meus amigos. Ainda estava no primário, com seis ou sete anos. A tarde de verão era abafada e radiante como meu espírito e me chamava para uma partida de futebol. Todos foram aproveitar nossos dias de descanso, tanto meninos como meninas. Lembro-me até do cheiro de chuva no asfalto de que tanto gostava. Prestes a terminar o jogo, a bola foi isolada. O barulho de uma janela se quebrando quebrou também minha felicidade. Meu vizinho era um homem de respeito, mas com uma seriedade ímpar. Preservava sua casa como uma família. Quando o vi aparecer, tomei outra forma: sentimentos de medo, vergonha, remorso, resumidos a um congelante frio na barriga. Comunicou o ocorrido a nossos pais, e como já fizera anteriormente não delatou as meninas que jogavam conosco. Ele tinha uma afeição maior por elas que não sei explicar até hoje. Minha bola, que estava na sala da casa, pedia socorro para que eu a buscasse, pedido que não pude atender. Uma chuva trovejou meus momentos de alegria. O cheiro do asfalto havia se dispersado, queria voltar para casa, mas meus pais ainda discutiam. Porém meu maior medo era perder minha bola. Diferente do que pensei, ele devolveu a bola, mas com seu tradicional olhar sério. Dormi com a consciência pesada, mas feliz, sem saber o que aconteceria como consequência. Não sei como, mas até hoje guardei memórias de um dia tão pavoroso numa colorida infância. David Borger - 9º A