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Opinião|Física é difícil? Depende do referencial

Atualização:
 Foto: Estadão

Você já experimentou pegar uma estrada congestionada, com uma criança a bordo, em um automóvel de velocidade nula? Quero lhe contar como foi aquele dia, estufado pelo gás carbônico exalado pela combustão, de uma ordem de grandeza de 10 elevado à 2 de máquinas térmicas em repouso. Eu estava atrasado para adquirir simultaneidade com um compromisso, irritado com a ausência de taxa de variação do espaço em função do tempo.

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Tenho três filhos e posso defini-los como F1, F2 e F3, em ordem decrescente de translações completas em torno do Sol. Meu guri F1 estava no automóvel comigo e seu corpo já sinalizava falta de equilíbrio dinâmico. Verifiquei experimentalmente que a imagem virtual dele, formada pelo retrovisor central, já não era mais observável no meu campo visual. Parece que ele preferiu se deitar no banco, pois não conseguiu resistir ao aumento de entropia do sistema. Optei por não perturbá-lo quanto a isso, mesmo estando ciente das leis de trânsito e dos choques frontais que poderiam ser ocasionados pela lei da inércia.

Por conta da minha incapacidade de formar um modelo estatístico ou, como diria alguém que tem falta de rigor, por causa da lei de Murphy, todos os móveis das pistas paralelas adquiriram aceleração constante maior que zero em relação à rodovia, exceto os que estavam dispostos na minha pista. Num ato de desespero, F1 resolveu aumentar a energia potencial gravitacional do seu centro de massa e gritou: "Papai! Por que estamos andando para trás?"

Tive vontade de desprezar a hipótese de F1, mas abandonei este débil posicionamento científico, pois não se deve promover verdades absolutas dogmáticas e irreversíveis.

Pode-se constatar que F1 tinha colocado seu referencial nos imensuráveis caminhões que mantiveram movimento progressivo na rodovia. Assim como os caminhões estavam se movendo para frente em relação ao nosso automóvel, o nosso automóvel estava se movendo para trás em relação aos caminhões. Como fiquei orgulhoso de F1, pois ele estava relativisticamente falando, tão certo quanto eu. É o meu guri!

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Dedico esta lição filosófica e conceitual de Física aos meus alunos e aos seus pais.

Marcio Kobayashi Professor e Assessor de Física do Colégio Pentágono

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