Para os pais, preocupações de como ocupar o tempo ocioso ou, o que é mais comum, como comprá-lo já que o consumismo do ócio impõe roteiros de grife ou, ao menos, obrigatoriedade de roteiros.
Aliás, dentre os grandes desafios existenciais, o de "desmonetarizar" a felicidade e o prazer penso ser um dos mais prementes. Se no capitalismo as coisas sem valor, nada valem, que esse valor não seja traduzido em cifras, que nos esforcemos para que a valoração seja, essencialmente, humana.
Da mesma forma como é excessivo e inadequado que se façam programas de reforço escolar nas férias, é desaconselhável que se pense nelas como um momento de embrutecimento intelectual. Numa época de agendas tão pesadas, de tão poucas oportunidades de convívio familiar, de ritmos tão neurotizantes de vida, estender as neuroses ou ocupações estéreis para os recessos escolares é opção arriscada.
Insisto, precificar a alegria é tão impróprio quanto não desfrutar das inúmeras possibilidades de se organizarem programas que congreguem as famílias, com algum cunho cultural e que se encaixem nos mais exíguos orçamentos, como visita a museus, que normalmente são baratos ou gratuitos, e possibilitam um universo de descobertas enriquecedoras ou mesmo passeios a roteiros históricos que, mesmo em nossos cotidianos, desconhecemos. Enfim, fugas do banal.
Esse tema sobre férias, aliás, nos leva a emprestar do pensador italiano Domenico De Masi o título de uma de suas obras, "O Ócio Criativo" é a oportunidade ímpar das famílias, de fato, terem férias inesquecíveis porque criativas e produtivas.
Professor Henrique Vailati Neto é diretor do Colégio FAAP - SP. Formado em História e Pedagogia, com mestrado em Administração. É professor universitário nas disciplinas de Sociologia e Ciência Política. Tem quatro filhos e quatro netos.
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