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Blog dos Colégios

Mais afeto, por favor

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Por Colégio Anglo 21
Atualização:
 

*Por Carolina Achutti

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Eu sempre observei que amar o próximo de forma despretensiosa tinha um efeito positivo. Viver com o coração cheio de amor é o melhor jeito de levar a vida, e como professora, eu sempre busquei demonstrar afeto pelos meus alunos, independentemente de sua origem, classe social ou credo. Por isso, fui em busca de saber a importância do afeto na relação entre aluno-professor, e notei que a afetividade já foi bastante estudada, e colocada, como eu já desconfiava, como um dos fatores mais importantes no processo de ensino e aprendizagem. Os sentimentos são um dos elementos que constituem o ser humano, de forma que não podem ser negligenciados, eles devem receber atenção e devem ser desenvolvidos no ambiente escolar. Não podemos encarar a escola como um ambiente estéril e apático. Inclusive, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil,  1997), consta que uma educação de qualidade deve desenvolver as capacidades cognitivas, afetivas, éticas e estéticas, visando a construção do cidadão em todos os seus direitos e deveres. Assim, há uma necessidade urgente de desenvolvermos projetos escolares que contemplem o trabalho das emoções. O afeto é essencial para todo o funcionamento do nosso corpo, é o que nos dá coragem, motivação, força e interesse. Principalmente para a criança na fase de alfabetização, o afeto é importantíssimo, pois ela precisa se sentir segura para poder desenvolver seu aprendizado, e é necessário que o professor tenha consciência de como seus atos são extremamente significativos nesse processo. WALLON (1995) fala do afeto na educação infantil, mas isso não pode ficar restrito a essa fase, eu como professora do Ensino Fundamental II e Médio, enxergo com pesar que com os anos os professores olhem menos para os seus alunos, acreditando que o afeto não tem mais espaço. Um grande erro. O medo, a angústia, a ansiedade e a frustração, são sentimentos que desgastam o aluno, e são comuns na adolescência, mas não podem ser naturalizados. No ensino fundamental II, acompanhamos a transição das crianças para a adolescência, não é uma fase tranquila, mas a nossa serenidade e o nosso afeto auxiliam na redução, ou até eliminação, desses sentimentos desagregadores, tornando tudo mais fácil. Por isso resolvi escrever para o blog, primeiro por acreditar no poder do afeto e que crescemos quando não somos egoístas em relação às nossas práticas em sala de aula, por isso relatarei brevemente uma das atividades que desenvolvemos com os oitavos anos no Colégio Anglo21. O título é:

Escrevendo com o coração.

Iniciamos com a leitura do livro

A vida na porta da geladeira,

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de Alice Kuipers. O enredo do livro fez com que os alunos se emocionassem, o que fez com que a leitura ganhasse um novo sabor. Foi uma experiência e tanto ver tantos jovens emocionados com o enredo da obra que retrata a relação entre uma mãe e uma filha, que passam por momentos complicados e muito comuns, o que causa um certo impacto, uma vez que a identificação entre ficção e realidade é quase instantânea. É um livro bastante acessível e simples do ponto de vista linguístico, mas muito desafiador, pois põe em pauta assuntos muitas vezes deixados do portão da escola para fora, oferecendo subsídio para falarmos sobre amor, paixão, doença e morte.Grande parte nunca tinha chorado diante das páginas do livro e isso gerou um clima propício para que prosseguíssemos com a sequência didática planejada. Após diversas atividades que não relatarei aqui, mas que posso dividir em outro momento, os alunos, já sensibilizados, foram convidados a produzirem uma mensagem por escrito, como fez a personagem ao final do livro, para alguém que amavam, mas não desfrutavam da companhia tanto quanto gostariam. Muitos se lembraram de pessoas que já não estão mais aqui e se emocionaram. Tínhamos um clima de paz, ainda que houvesse dor, afinal, é uma questão complexa e por isso mesmo deve ser conversada e exteriorizada. Poderia ficar relatando por páginas como foi a experiência, como foi sublime ver amigos se abraçando e revelando dores tão íntimas, meninos vencendo a barreira do choro na frente da turma e mais,  a ressignificação da escrita, que foi percebida como um canal privilegiado para nos ajudar em diversos momentos, a função reparadora foi sentida na pele, escrever nos ajuda a lidar com sentimentos de dor e angústia, para saber um pouco mais sobre isso, por fim, indico aos colegas de profissão e aos pais, a leitura do livro

A arte de ler ou como resistir à adversidade

, da autora francesa Michèle Petit. Até a próxima, mas antes, reflita sobre quantas vezes você olhou nos olhos do seu aluno/filho e perguntou se estava tudo bem?

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