"Quando cheguei ao Colégio Rio Branco, em Higienópolis, a escola ainda cheirava a cimento fresco". Assim começava a história profissional de uma das pessoas mais queridas da instituição: Maria Olívia Valentini Montenegro.
Em pouco tempo, mesmo com a recente experiência adquirida em sala de aula, dona Maria Olívia ou professora Maria Olívia, como é carinhosamente chamada, ganhou confiança e mostrou toda a sua habilidade e seriedade para lidar com as mais diferentes questões pedagógicas e administrativas que envolvem o cotidiano de uma escola.
Desde o início, dedicou-se à assistência da então diretora à época, Soledade Santos, a quem se refere com enorme carinho e gratidão, trabalhando e aprendendo sobre questões de secretaria, gestão, famílias e alunos que passavam pela instituição, até o final da década de 1980.
A partir de 1989 e até os dias de hoje, aos 73 anos de idade, assumeseu lugar à frente da direção da tradicional Unidade Higienópolis, ao lado da diretora-geral do Colégio Rio Branco, Esther Carvalho e da também diretora de unidade, Valquíria Rodrigues.
Memória viva da instituição, Maria Olívia acompanhou ao longo dessas mais de cinco décadas, as mudanças globais na educação, nas famílias e nos perfis dos estudantes. De dentro da escola vivenciou importantes períodos e transformações históricas, políticas e sociais que foram se refletindo no contexto educacional e na realidade da instituição e do país.
Ayrton Senna, Ruth Rocha, Dan Stulbach, e vários outros artistas, assim como a família Ermírio de Moraes e o empresário Benjamin Steinbruch são alguns dos nomes de ex-alunos que a diretora menciona ter passado pelo Colégio Rio Branco, com forte atuação na sociedade
"É uma alegria e um orgulho muito grande reencontrar nossos ex-alunos, já que a escola atua na formação pedagógica, moral e de caráter. Nós trabalhamos com o todo e quando vemos nossos alunos se destacarem é uma realização porque nos esforçamos para esse sucesso ", explica emocionada. "Temos médicos, advogados, e em todas as profissões temos ex-alunos com grande destaque", completa.
Várias gerações de pais, filhos e agora netos estudam no Colégio Rio Branco, o que colore as lembranças e o dia a dia da diretora. O denso caldo cultural que constitui a cidade de São Paulo também faz com que ela se refira, com orgulho, a importantes aspectos como a forte presença e importância da comunidade judaica no colégio, ao longo das décadas, por meio de suas crianças; as comunidades asiáticas e alunos das mais diferentes nacionalidades, sempre em sinergia com a realidade e crescimento da cidade, fatores que foram dando corpo à pluralidade e a valorização da diversidade como principais vertentes educacionais da instituição.
O colégio também percebe as mudanças nos perfis das famílias, o que a faz aprender muito ainda hoje "isso aqui é uma escola de vida", traduz. Do alto de sua larga experiência, a receita que dá para pais, famílias e educadores é bastante alinhada com os da instituição que ela mesma ajudou a consolidar: acolhimento e respeito.
"Em primeiro lugar, temos que acolher e respeitar. O respeito é a base de tudo, e é o que sempre falo para os alunos: quando há respeito nas relações, tudo caminha bem", explica.
Sobre saudades, ela diz sentir muitas sobre muitas épocas e pessoas, como a professora Vilma Rocha, que atuou ao seu lado durante 48 anos, tendo sido, inclusive, ambas contratadas no mesmo dia."Além de muito querida e minha amiga até hoje, a Vilma foi muito importante para o Colégio Rio Branco, já que também assumimos a diretoria ao mesmo tempo, ela cuidando da parte pedagógica, e, eu, da administrativa. Foi uma longa parceria que deu muito certo", conta com admiração.
Também cita outros colegas, profissionais e os próprios alunos que a cada ano se formam e despedem-se da instituição rumo a novos caminhos de vida.
Como desejo de educadora e sobre o atual cenário da educação, Maria Olívia gostaria que as condições e formação global dos professores fossem melhores e que um maior anseio pela prática de ensino voltasse a ser despertado, como antes, naqueles que buscam por uma profissão. "Ainda existem pessoas idealistas que procuram lecionar, o que é muito importante, apesar das dificuldades. A base para um país é a educação", afirma.
Viúva desde 1995 e mãe de três filhos formados, teve com a família a mesma dedicação e cuidado que teve com a profissão, já que para ela, ambas sempre se fundiram, se ajudaram e se completaram em harmonia.
No último dia 15 de fevereiro, para alegria daqueles que têm ou tiveram o privilégio de conhecê-la no convívio da prática e no aprendizado educacional, e como motivação para educadores de diferentes instituições, Maria Olívia Montenegro completou mais um ano de trabalho no Colégio Rio Branco, com a mesma energia, otimismo, sagacidade, boa memória e amor já demostrados em seu primeiro dia como professora, naquela tarde de uma quarta-feira, de 1961.