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A educação que vale a pena

Pisa 2015: crônica de uma morte anunciada?

Enquanto não entendermos, como país, que o desenvolvimento econômico e social está intrinsecamente relacionado com a qualidade da nossa Educação, não vamos evoluir para ser uma nação justa, equânime e protagonista no cenário global

Por Ana Maria Diniz
Atualização:

Saiu o PISA, Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes, de 2015, e o nosso desempenho foi uma lástima. Porém, não poderíamos esperar nada melhor do que resultados desastrosos que mais uma vez colhemos. Já dizia Albert Einstein: "Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes". Para produzir mudanças significativas, precisamos mudar nossa forma de fazer as coisas.

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E o que fizemos para mudar a nossa Educação?

Continuamos a negligenciar a formação deprofessores e gestores escolares, a ter inúmeras salas de aula sem professores durante o ano, mantivemos diretores de escolas públicas imersos em burocracias do sistema, sem tempo para prestar atenção na evolução acadêmica das crianças, não colocamos o devido foco na alfabetização de nossos estudantes e fomos cúmplices de um sistema que mantém a escola chata e desinteressante. Para piorar, continuamos a gastar o dinheiro do contribuinte mal, muito mal, promovendo uma Educação na qual cada real é investido sem a menor preocupação com a eficiência.

Com raríssimas exceções, foi só  o que fizemos: mais do mesmo!

E, assim, como revelam os resultados deste novo PISA, continuamos péssimos. Igualmente péssimos em Linguagem e Ciências, matérias que nos renderam, respectivamente, a 59ª e 63ª posição entre os 70 países participantes do ranking deste ano, e ainda piores em Matemática, regredindo 11 pontos em relação à última edição, de 2012, onde amargamos o 66º lugar. Quase metade dos nossos estudantes (44,1%) ficou abaixo do nível 2, numa escala que vai de 1 a 6. Esses alunos possuem conhecimento abaixo do minimamente adequado nessas três disciplinas, o que não lhes permite, segundo a OCDE, o exercício pleno da cidadania.

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O que podemos esperar de um país onde a maioria dos estudantes entre 15 e 16 anos não compreende o que lê, é incapaz de resolver problemas simples envolvendo números e não consegue identificar, nem explicar, fenômenos científicos básicos?

Uma Educação de qualidade não é só um direito, é um patrimônio estratégico de um país, indispensável para o seu crescimento. Como escreveu o economista Gustavo Ioschpe no livro "A Ignorância custa o mundo", em sua segunda edição, recém-lançada, a má qualidade da nossa Educação sonega dos jovens a possibilidade de atingir sonhos e impõe ao Brasil a eterna condição de subdesenvolvido.

A Educação é um fator determinante na renda de uma pessoa. Ela explica cerca de 50% da sua variação salarial. Cada ano a mais de estudo representa um aumento de 10% no salário. Mais anos de estudo não são benéficos apenas a nível individual.O aumento de um ano na escolaridade da força de trabalho gera um crescimento econômico de 8% a 10% anualmente. A Educação também está diretamente relacionada à desigualdade: a manutenção de um sistema educacional de qualidade diminui de 35% a 50% as diferenças econômicas e sociais no médio e longo prazo.

O PISA não é um teste trivial. É uma avaliação importantíssima, que já começa a se preocupar em avaliar as habilidades e competências essenciais para a vida no século 21, a fim de garantir o que as crianças de 15 anos, de diferentes partes do mundo inteiro, precisam saber para ter uma vida produtiva e realizada. Mais do que apenas atestar conhecimento, o PISA mede a capacidade dos estudantes de usar o conhecimento adquirido para resolver situações e problemas da vida real, sem a qual é praticamente impossível ser bem sucedido nos dias de hoje.

Os resultados do PISA não só escancaram a mediocridade do nosso ensino. No mundo cada vez mais conectado em que vivemos, em que o pensamento crítico e o domínio das ciências exatas se tornam cada vez mais importantes, eles ressoam praticamente como uma sentença de morte, ou, talvez, como uma crônica de uma morte anunciada.

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No romance de Gabriel Garcia Márquez que dá título a esse post, todos sabiam que Santiago Nasar iria morrer, menos ele. Todos poderiam, de alguma forma, ter impedido, ou ao menos tentado impedir, seu assassinato, mas não o fizeram, ou por descaso ou por não acreditarem que aconteceria, de fato.

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Parece que o mesmo acontece com o nosso país: todos sabemos que sem uma Educação de qualidade, o Brasil está condenado ao subdesenvolvimento, à pobreza e à desigualdade. A diferença é que, ao contrário de Nasar, temos a chance de mudar o final da história. Basta estarmos dispostos a fazer as mudanças necessárias para garantir o futuro.

Não precisamos mais viajar para nos inspirarmos no que outros países fizeram para transformar seus sistemas de ensino. Sabemos o que precisa ser feito. Precisamos, antes de mais nada, eleger um governo que, de fato, acredite na Educação como força motriz do desenvolvimento do país, que tenha vontade política e coragem para fazer as coisas de outro jeito.

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