Nada disso é à toa. Se o primeiro referencial da criança é ela mesma, é por ela que se inicia a construção do conhecimento. É pelos sentidos físicos que começamos a apreender o mundo, é por nos movimentar que adquirimos noções espaciais, é pela vivência de uma rotina que dominamos a ideia de sucessão temporal. E é a partir desse primeiro estágio que se desencadeia um processo que pauta a elaboração de um plano pedagógico: a ordenação dos conteúdos numa sequência progressivamente mais complexa, cada aprendizado servindo de base para o próximo.
Poucas vezes esse processo ficou tão evidente como na mais recente Mostra Cultural Sabin, realizada em outubro de 2015, em que os trabalhos dos alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I foram organizados por disciplina. Cada estande foi montado de forma a evidenciar a evolução dos aprendizados ao longo dos anos, em cada área do saber, do autorreferencial e concreto para o universal e abstrato. "Para nós, o novo modelo foi um grande ganho, por mostrar aos pais a qualidade e os efeitos do nosso trabalho", diz Dionéia Menin, coordenadora pedagógica da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I.
Do autorreferencial ao universal
Começando em si mesmos, alunos aprendem a olhar cada vez mais longe.
Primeiro, é apenas um círculo imperfeito e alguns traços no papel. Para uma criança de três anos, porém, o desenho representa uma pessoa. "As garatujas dos alunos do Maternal estão no início do trabalho com o esquema corporal", diz a assessora de Ciências, Adriana Alonso. Segundo ela, a forma como a criança desenha uma pessoa corresponde ao seu grau de conhecimento sobre o próprio corpo e sobre o corpo humano em geral.
Assim, o desenho que, inicialmente, é uma coisa só vai se desmembrando em uma imagem cada vez mais refinada. No Pré I, por exemplo, o aluno já sabe identificar, em si e no papel, cabeça, tronco e membros. No Pré II, o rosto ganha expressões, por meio de variações em olho e boca; braços ganham mãos, mãos ganham dedos. O 1º ano explora os cinco sentidos, até que, no 2º ano, o aluno está pronto para olhar para dentro de si. Vem o estudo sobre micro-organismos e alimentação saudável, sucedido pelo estudo dos sistemas locomotor (3º ano), digestório, respiratório, circulatório (4º ano), urinário, reprodutório e nervoso (5º ano). Da fase da garatuja inicial à representação mais completa e precisa do organismo humano, todo o processo do aprendizado estava retratado no estande de Ciências da Mostra Cultural, em desenhos e projetos de alunos do Maternal ao 5º ano.
As demais disciplinas seguiam lógica semelhante. O trabalho de História, por exemplo, começa na Educação Infantil como parte da área Natureza e Sociedade. Nessa fase, alunos que ainda mal dominam o conceito de tempo - muito menos o de tempo histórico - investigam sua própria história, perguntando aos pais sobre a origem de seus nomes e sobre como eram ao nascer.
"Temos um projeto do Pré II em que cada aluno recebe um boneco de pano que o representa, confeccionado com as medidas aproximadas em que nasceu", cita Luciana Vidal, assessora de História e Geografia. "Eles levam os bonecos para casa, para adaptá-los à sua semelhança: colocam cabelos, olhos, roupinhas". A comparação entre quem são hoje e quem já foram representa um dos primeiros momentos em que eles percebem mais claramente a passagem do tempo.
A partir do Fundamental I, porém, a perspectiva vai se ampliando: da história de cada um, partem para a história de suas famílias e de seu meio social direto, confeccionando árvores genealógicas e relicários de classe, estes últimos com objetos significativos do passado de cada aluno. Só a partir do 3º ano eles entram em contato com a História do Brasil e do mundo.
Já em Matemática, aqueles primeiros gráficos montados com os próprios alunos enfileirados vão sendo substituídos por gráficos que exigem maior grau de abstração e domínio de novas variáveis, como gráficos de barras (comparações de dados estáticos), de linhas (extrapolação de dados estáticos em tendências) e de setores (análise da relação entre as partes e o todo).
Expostos lado a lado na Mostra, os projetos dos alunos ao longo das séries formavam um percurso pelos conteúdos aprendidos em cada área do conhecimento. O modelo não poderia ter dado mais certo. "Recebemos um feedback positivo das famílias", diz Dionéia Menin. "Eles afirmaram que puderam entender melhor o contexto daquilo que seus filhos tinham aprendido e do que ainda aprenderão".