Educação financeira como necessidade

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Por Newton Campos
Atualização:

Por aqui os espanhóis têm se perguntado muito sobre o que está errado em sua economia. Tudo estava indo tão bem, o país saltou de vigésima economia do mundo à oitava em apenas 20 anos. O que está acontecendo de errado?

Alguns analistas acham que uma das possíveis respostas está na falta de educação empreendedora às crianças e aos adolescentes espanhóis. Cerca de 40% dos jovens ainda sonham ser funcionários públicos por aqui. Um sonho do passado, já que até mesmo os governos já estão demitindo milhares de pessoas (ou baixando seus salários).

 

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Hoje não vou falar de tecnologia, vou falar de dinheiro. Em minha opinião, este ainda é um ponto cego na educação mundial. Vivemos em uma sociedade capitalista, crescentemente capitalista. Não estou a favor nem contra o capitalismo. Não gosto do sistema atual, mas acho que ainda não inventaram nenhum sistema melhor para a defesa da liberdade individual. Todas as tentativas de se desenvolver algo melhor terminaram em ditadura e falta de liberdade. É uma pena que só sintamos falta da liberdade quando já não a possuimos, como os cidadãos da China, da Venezuela ou do Irã atuais.

Mas enfim, voltando ao assunto da educação financeira, embora estejamos mais de 90% do mundo jogando o jogo capitalista, ninguém nos ensina sobre o mundo do capital. Ninguém nos explica em nenhum momento de onde vem o conceito do dinheiro, o que ele simboliza, porque o dinheiro tem valor no tempo, como faço para administrar meu dinheiro ou como faço para me endividar de uma maneira saudável, comprando ativos (bens que geram dinheiro) ao invés de passivos (bens que consomem dinheiro), por exemplo.

A contabilidade - também conhecida como a "linguagem do dinheiro" - pode parecer um assunto chato, mas poderia estar mais presente nos colégios e universidades de hoje em dia. Ainda são muito poucos os colégios que se atrevem a ensinar contabilidade para crianças e adolescentes, embora isso esteja mudando com diversas iniciativas pelo mundo como as do americano Robert Kiyosaki (Rich Kid Smart Kid), famoso autor do livro Pai rico, Pai pobre. No países de língua portuguesa ainda somos muitos os que achamos que estamos cometendo uma espécie de pecado ao ensinar sobre dinheiro aos nossos alunos ou aos nossos filhos.

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A contabilidade moderna foi inventada no século XV pelo monge italiano Luca Pacioli, nada mais nada menos que professor de matemática de Leonardo da Vinci, um dos maiores gênios de todos os tempos. A contabilidade é a ciência que estuda o patrimônio. Desde então, esse conhecimento se desenvolveu pela Europa nos séculos seguintes, até ser profissionalizado na Revolução Industrial inglesa.

Nos Estados Unidos e na Inglaterra o contador é uma pessoa muito importante socialmente. Não contabilizar corretamente os patrimônios das pessoas ou das empresas é um crime muito grave. No Brasil, em geral, o contador é o "mané da esquina", que preenche os formulários burocráticos para que paguemos nossos impostos.

Nesse recém-iniciado século XXI vamos precisar de mais pessoas repensando o sistema. E teremos que fazer isso pacificamente, pois as guerras já não dão mais os lucros nem geram os empregos que geravam antes. Nossas vidas não poderão continuar baseadas num sistema que requer o crescimento eterno para se manter.

Mas se os nossos jovens não conhecerem os sistemas financeiros e suas falhas, não poderão propor melhoras. Deixemos de lado a culpa de ter que estudar sobre o capital e comecemos a derrubar esse tabu. Os jovens devem aprender a lidar com o dinheiro desde cedo, sob a pena de ficarem marginalizados no desenho do futuro do mundo.

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