Dá para integrar nossos lares ao processo educacional?

Semana passada fui ao cinema assistir ao excelente filme Norte-Americano Desapego (Detachment). Fazia tempo que queria vê-lo. Trata-se da história de um professor de educação secundária, enviado a escolas públicas da periferia para repor aulas de inglês.

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Por Newton Campos
Atualização:

Quem trabalha no mundo da educação deve assisti-lo, pois como bem disse a crítica Juliana Fernandez, o filme equivale a um "tapa na cara", que nos deixa pensando sobre o assunto por dias (ao final deste texto deixo disponível o link de sua resenha profissional sobre o filme). Além disso, a atuação do ator Adrien Brody é simplesmente espetacular.

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Sem entrar no drama das histórias contadas, a primeira coisa que me chamou a atenção foi, mais uma vez, perceber que mesmo a escola pública mais "feia, pobre e sem infraestrutura" dos Estados Unidos, é incrivelmente bonita e bem cuidada para os padrões da maioria das economias subdesenvolvidas ou em desenvolvimento do mundo (Brasil incluído).

O filme nos deixa uma mensagem aparentemente básica, mas muito relevante: que a informação vem da escola (ou mesmo da internet, hoje em dia), mas educação vem de casa (e nunca da internet).

É a falta de exposição a valores humanos e a referências inspiradoras no lar que contaminam o ambiente educacional de muitas escolas pelo mundo na atualidade. E tampouco se trata de uma questão de pobreza ou riqueza: essa "falta de educação" moderna está presente também em muitas escolas de elite, seja nos Estados Unidos, na Espanha ou no Brasil. Falta educação em casa.

Fiquei pensando numa das características da educação do futuro: maior integração de atores ao sistema educacional. Por exemplo, a partir do ano que vem, num projeto pioneiro que lidero aqui em minha universidade, os programas de mestrado integrarão alunos e ex-alunos da escola num mesmo grupo, utilizando, simultaneamente a formação tradicional e a educação continuada. Utilizaremos o formato blended (semipresencial). O resultado? Acreditamos que isso resultará numa experiência muito mais enriquecedora para professores, alunos e ex-alunos, que poderão aprender todos uns dos outros.

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No futuro não muito distante, conseguiremos integrar também ex-alunos de outras universidades, professores de outras universidades, profissionais do mercado (guest speakers) e quem sabe até mesmo amigos, colegas de trabalho e parentes destes profissionais às mesmas plataformas de formação (desde que cumpram obviamente com os rigorosos processos de seleção).

Se isso for bem administrado, todos aprenderão de todos, numa riqueza de intercâmbios absolutamente inédita para um programa formal de mestrado (só receberiam diplomas oficiais os alunos matriculados, os demais participantes receberiam certificados não-oficiais).

Porque não podemos, da mesma forma e num futuro relativamente próximo, integrar nossos lares aos sistemas educacionais públicos e privados de nossos filhos, amigos e colegas de trabalho, com a ajuda da tecnologia? Assim poderíamos tentar fazer que todo um bairro se envolva, de forma presencial e a distância, no processo de ensino e aprendizagem coletivo.

Clique aqui para ler um comentário profissional sobre o filme "Desapego", por Juliana Fernandez.

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